Comportamento

Situações embaraçosas e imprevistos exigem habilidade para superar a saia justa

Especialista analisa as possibilidades diante de um acontecimento inesperado que não podemos evitar, mas contornar

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 27 de março de 2024 | 06:00
 
 
Situações embaraçosas e imprevistos exigem habilidade e disposição às mudanças para quem se vê diante do inesperado Foto: Nicoletaionescu/iStockphoto

Quase tão antiga quanto a própria humanidade, sem distinção entre homens e mulheres, ela passou por transformações culturais ao longo dos tempos, mas sua essência permanece. Quando alguém se sente desconfortável, surge logo a expressão “saia justa”. 

Essa peça do vestuário cujo primeiro registro data de uma escultura Suméria – ancestral civilização da Mesopotâmia, atualmente pertencente ao Iraque – do ano 3.000 a.C., e que só se tornou primordialmente associada ao público feminino no Ocidente a partir do século XII, era parte indispensável do guarda-roupa de egípcios e romanos, passando pelos chamados povos bárbaros, até ser adornada com itens propícios para afinar a cintura e destacar a silhueta da modelo, como o masoquista espartilho, moda criada na Inglaterra que asfixiou corpos sem pedir licença ao conforto.

No século XX, o estilista francês Paul Poiret (1879-1944) levou para a passarela uma saia tão apertada, batizada de “enviesada”, que limitava os movimentos das mulheres a ponto de elas ficarem mais parecidas com estátuas – lembrando a histórica escultura mesopotâmica. Se uma pessoa “congela” e não consegue reagir a um determinado acontecimento, estamos diante da tradicional “saia justa” social, como explica a terapeuta integrativa Fabyana Assunção, que enumera alguns exemplos. 

“Faltar ao trabalho alegando doença e encontrar um colega ou o chefe no mesmo dia. Situações de empréstimo de dinheiro e precisar cobrar ou não ter como pagar. Dentro da família mesmo, mentiras ‘inocentes’ que são pegas por outros membros. Pessoas não convidadas que descobrem o evento”. Nessas horas, a dica é ter “jogo de cintura”. 

Rebolando

Embora considere “difícil evitar uma situação de saia justa”, por não ser “algo que esteja ao nosso controle”, Fabyana acredita que é “possível lidar com ela”, a partir de comportamentos que tendem a minorar os danos da derrapada. “Tente ganhar tempo para resolver ou falar o que deve ser falado sem ofensas. Não entre na defensiva, você pode responder com uma pergunta. E a melhor saída é sempre a verdade, na minha opinião”, orienta. 

Enquanto quem tem “uma presença de espírito muito grande” – trocando em miúdos, quem não se leva tão a sério – tende a rebolar com mais desenvoltura ao ser confrontado com um embaraço, as “pessoas mais resistentes às mudanças, apegadas à rotina, perfeccionistas, controladoras e com um medo grande das perdas” podem ter mais dificuldade para lidar com o imprevisto de uma saia justa. 

“Afinal, o inesperado não faz parte da vida delas, pois desejam sentir o controle, e sair da rotina é complicadíssimo”, explica a terapeuta. Novamente, ela bate na tecla de que “não é possível preparar-se para o inesperado, mas podemos aprender a agir quando o inesperado acontece, gerindo o episódio da melhor maneira”. A primeira atitude a ser tomada é “aceitar que os imprevistos acontecem, aprendendo a sermos mais flexíveis”. 

Para expor sua tese, Fabyana aproveita o recorrente caso do imprevisto financeiro, ao qual muitos brasileiros já se acostumaram. “Faça uma reserva de emergência, um curso de finanças, aprenda a controlar os gastos. Para evitar ficar na mão com o carro, tenha sempre o veículo revisado. Só nestes dois exemplos você percebe que pode minimizar os danos colaterais”. Mas, ainda assim, o pneu pode furar.

Especialista explica como diferenciar saia justa de assédio moral

Um dos hábitos que permeiam o folclore brasileiro é a tal falta de pontualidade, vista por Fabyana como ideal para propiciar várias saias justas. “Para aqueles ‘imprevistinhos’ diários que te roubam tempo, separe um tempo para eles. Não saia em cima da hora, não agende nada em seguida. Tenha um tempo reserva na sua agenda”, sugere. Nessa mesma linha, ela aponta para a necessidade de valorizar esse bem tão precioso e cada vez mais escasso em nosso frenético cotidiano. 

“Tire um tempo para pensar e respirar, assim você vai encontrar a melhor forma de agir. Viva o presente e tenha mais consciência ao realizar suas escolhas. Autoconhecimento e percepção de sentimentos e emoções são vitais para lidar melhor com imprevistos. O ‘plano B’ é sempre uma alternativa”, diz ela, sublinhando a “importância de se adaptar”. A contemporaneidade mediada pelas redes sociais traz, na visão da terapeuta, decisões contestáveis para não enfrentar os obstáculos, com escapes para o ambiente virtual. 

“Muitas pessoas se escondem nas telas, passando muito tempo ali sem perceberem, e, às vezes, desejando a vida ‘Instagramável’ do outro e não olhando para si e para a própria vida. Com isso, não conseguem lidar com ocorrências cotidianas, entre elas o imprevisto”, analisa. Outra pauta que aparece na ordem do dia é saber diferenciar a saia justa do assédio moral, sendo que este prevê pena de detenção e multa. 

“O assédio moral é a conduta que caracteriza comportamento abusivo, frequente e intencional, através de atitudes, gestos, palavras ou escritos ofensivos para a vítima. Já a saia justa é uma situação constrangedora, mais pontual”, elucida a terapeuta. Ela apela aos que presenciarem ambos os fatos para irem ao socorro de quem estiver em apuros. No caso da saia justa, “se a pessoa estiver em condições de agir, o melhor caminho é mudar de assunto ou retirar o outro do local, de forma natural e discreta”, finaliza.