Terra de Gigantes

Com aval da Unesco, MG ganha seu primeiro geoparque mundial

Localizado em Peirópolis, zona rural de Uberaba, no Triângulo, ele é o primeiro do Sudeste

Por Cristiana Andrade
Publicado em 26 de março de 2024 | 15:37
 
 
Uberabatitan em primeiro plano, compõe, com o abelissauro, o jardim do Museu dos Dinossauros, em Peirópolis, bairro rural de Uberaba (MG) Foto: Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Price/Divulgação


Minas Gerais entra nesta quarta-feira (27) para o mapa mundial em relevância e importância para a paleontologia: a Unesco, agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Educação, a Ciência e a Cultura, assina a criação do Geoparque de Uberaba – Terra de Gigantes. A cidade vai comemorar a certificação inédita com uma grande festa popular - o anúncio oficial será realizado pela Unesco em Paris, ao meio dia horário de Brasília.

Essa conquista é esperada há anos por paleontólogos, geólogos e pesquisadores que atuam em Peirópolis, na zona rural de Uberaba, no Triângulo Mineiro, considerada a “terra dos dinossauros no Brasil”. Esse é o primeiro geoparque mineiro e também o número um do Sudeste. Este ano, é o único a ser criado nas Américas. O Brasil já tem outros cinco geoparques.

Foco de pesquisas desde a década de 1940, a região de Peirópolis ganhou mais notoriedade no meio científico nos últimos 15 anos, com o aumento de paleontólogos interessados em achar pistas e elementos que pudessem indicar novas espécies de dinossauros, fauna e flora de idade entre 80 milhões e 66 milhões de anos. 

“São ossos variados, dentes, osteodermas e os fantásticos ovos e ninhadas, sem igual no país. Uberaba é o município do Brasil onde há a maior quantidade de espécies, dentre elas o maior dinossauro do país: o Uberabatitan ribeiroi, conta o pesquisador Luiz Carlos Borges Ribeiro, geólogo do Complexo Cultural e Científico de Peirópolis da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e coordenador do Programa Projeto Geopark Uberaba na UFTM.

Professor Luiz Carlos Borges Ribeiro e ninhadas de dinossauros


Três anos de escavações

Descoberto em 2004 durante obras de duplicação da BR–050, n<CW-28>a Serra da Galga, os fósseis desse dinossauro revelaram que ele teria até 27 m de comprimento e 10 m de altura, sendo considerado o maior animal que pisou em terras brasileiras desde a formação do planeta, há 4,53 bilhões de anos. Para descrever esse achado, e 2008, por três anos foram escavadas mais de 400 toneladas de rochas, com idade variando entre 72 e 66 milhões de anos.

Ao lado do Uberabatitan ribeiroi, foram descritos ainda, a partir dos fósseis achados em Peirópolis, o Uberabasuchus terrificus, Baurutitan britoi, Trigonosaurus pricei e o recente Ypupiara lopai. “Estão no prelo a descrição de mais dois dinossauros únicos, um titanossauro encontrado no centro de Uberaba e um excepcional carnívoro, resgatado em um programa de salvamento paleontológico em pedreira de calcário na estrada para Uberlândia. Sem dúvida, ele é uma das mais importantes descobertas de dinossauros de Uberaba nesses 79 anos de pesquisa paleontológica”, reforça Ribeiro.

Maior visibilidade

Com o anúncio do Uberaba Geoparque Mundial da Unesco, segundo Luiz Carlos, todo esse trabalho que vem sendo desenvolvido há tantos anos ganhará maior repercussão e notoriedade. “Além de valorizar a região, nosso povo, nossa história, nossa cultura, a certificação vai potencializar o turismo - principal elemento de desenvolvimento de trabalho, renda e qualidade de vida -, um nicho de Uberaba que não estava sendo explorado”, conclui.

Área deve ter atributos únicos e de relevância internacional 

Por definição da própria Unesco, o geoparque é uma área geográfica unificada, onde locais e paisagens de importância geológica internacional, assim como os sítios dos patrimônios histórico, cultural e ecológico, representam um conceito holístico de conservação, educação e desenvolvimento econômico sustentável por meio do turismo. 

“É uma alegria enorme para nós ter como irmão o geoparque Terra de Gigantes. Sabemos do trabalho e do orgulho de todos os atores envolvidos no território de Uberaba, processo capitaneado pelo geólogo doutor Luiz Carlos”, ressalta o diretor executivo do Araripe Geoparque, Eduardo Guimarães, professor na Universidade Regional do Cariri (URCA), no Ceará, e vice-coordenador da Rede de Geoparques da América Latina e Caribe da Unesco (GeoLAC). 

O Araripe foi o primeiro território das Américas a receber a chancela da Unesco, há 18 anos. 

Segundo Guimarães, quando uma área ganha o título de geoparque, significa que é um território de grande potencial de desenvolvimento. “O geoparque passa a ter a missão de salvaguardar o patrimônio tangível e intangível, patrimônio material e imaterial daquele território, num cenário global de outros geoparques. E acaba sendo parte de uma grande rede de networking, pois são muitas as possibilidades de troca de experiências”, cita. Ele também tem a capacidade de atrair investimentos.</CW>
“Para ter ideia, a partir dessa grande articulação, fechamos em 2023 uma parceria entre os governos do Estado do Ceará e da Alemanha para recebermos investimentos de R$ 20 milhões no Araripe. O título de geoparque é fundamental para alavancar o território”, acrescenta. 

Dossiê completo

Para inscrever a candidatura ao título de geoparque, a equipe do Complexo Cultural e Científico de Peirópolis da Universidade Federal do Triângulo Mineiro reuniu outros atributos da região ao detalhado dossiê da Unesco. Adotando uma estratégia regional, foi além dos dinossauros e ressaltou a importância e relevância da Expozebu no cenário agropecuário, considerada a maior feira de gado zebu do mundo; o patrimônio histórico e cultural da região e ainda a espiritualidade de Francisco Xavier, o Chico Xavier, que jogou luz sobre o espiritismo e a cidade de Uberaba, onde viveu por 43 anos.