De volta às aulas

A família deve incentivar a alfabetização?

Principal problema dos pais ou responsáveis incentivarem em casa essa aprendizagem suas crianças está relacionado a um movimento precoce de alfabetização

Por Cristiana Andrade
Publicado em 21 de janeiro de 2023 | 06:00
 
 
Criança de seis anos no início do processo de alfabetização recebe ajuda dos pais em casa Flávio Tavares/O Tempo

Pais e educadores que ficam ansiosos para que as crianças aprendam a ler e compreender textos podem incentivar as crianças contando histórias de palavras a partir do que ocorre em casa e dentro da sala de aula, por exemplo. Na visão da professora do Centro Pedagógico da Escola de Educação Básica da UFMG Marcilaine Soares Inácio, o principal problema de a família incentivar em casa a alfabetização de suas crianças está relacionado a um movimento precoce de alfabetização. 

“Um dos grandes problemas reside no fato de que as famílias não têm os conhecimentos especializados e necessários sobre o objeto de ensino em questão: a língua escrita e seu funcionamento. Muitas famílias reproduzem com suas crianças práticas de alfabetização às quais foram submetidas com uma prevalência de formação de sílabas e palavras pela junção de “letrinhas” (B+A= BA), própria do método silábico, ou do treino do traçado das letras (exercícios motores), em especial da letra cursiva que dispõe de mais status, escolar e familiar, se comparada à letra caixa alta”, diz.  

Para Isabel Frade, professora no Programa de Pós-Graduação em Educação da FaE-UFMG, transferir a oportunidade de alfabetizar para a família não é uma boa opção. “As famílias têm obrigações de trabalho, a vida doméstica, que não permitem que se esquematize o processo de alfabetização adequadamente. Esta é uma técnica especializada. A meu ver, a escola não apenas alfabetiza, mas é um lugar prazeroso, de convívio para a criança se relacionar com pessoas de sua faixa etária, onde vai aprender a ter autonomia no uso dos materiais para fazer tarefas, aprender a lidar com conflitos, tomar decisões; a escola é o lugar essencial para aprender isso tudo”, completa.

Uso de processos lúdicos

O que ambas especialistas sugerem é usar processos lúdicos de conectar a criança ao processo de letramento, de forma espontânea. “Na hora do lanche, por exemplo, use o momento para incentivar as crianças a contarem histórias usando palavras que envolvem aquela ação; instigue-a, perguntando qual letra pode usar para formar determinada palavra do lanche, ou com a letra do nome de quem começa a palavra que ela quer usar na atividade. É sempre interessante incluir personagens, colocar a criança como sujeito da ação, tudo isso faz parte do processo de compreensão e leitura da alfabetização”, enfatiza Isabel.

“Quando um pai lê para criança em casa, cita o abecedário, correlaciona algo que está falando com a letra do nome do pai, da mãe ou da criança; quando as crianças querem escrever seu nome ou conseguem localizar na tela do YouTube ou do celular uma imagem com a letra do seu nome, tudo isso é repertório que elas vão aprendendo e internalizando. São influências que recebem nesse processo de alfabetização de forma indireta”, diz Isabel Frade. 

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