Promessas vazias

LMG–760: Asfalto é esperado há 30 anos

Estrada deveria ser um importante trajeto de escoamento entre o Vale do Aço e a Zona da Mata, mas a pavimentação da via está na lista de espera

Por Rafael Rocha
Publicado em 25 de março de 2022 | 18:36
 
 
Sebastião Geraldo mora à beira da rodovia há meio século, tempo suficiente para ter assistido a muitos juramentos de melhoria do local Flávio Tavares

Falta asfalto, mas sobram poeira e promessas na LMG–760, estrada que fica nas proximidades do Parque Estadual do Rio Doce, uma importante unidade de conservação. A esperança de o pavimento chegar ao local já passa por gerações. A precariedade da rodovia contrasta com sua importância. Centenas de caminhões passam todos os dias por ali, pois a via serve de atalho entre o Vale do Aço e a Zona da Mata mineira. “Seria uma rodovia da possibilidade de crescimento econômico, já que desafoga as BRs 381 e a 262”, explica José Roberto Gariff, prefeito de São José do Goiabal e presidente da Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Rio Piranga (Amapi).

Quem mora nos arredores da estrada não tem como escapar. Aos 73 anos, Sebastião Geraldo viu a poeira e o caos permanecerem ao longo dos anos. O produtor rural mora à beira da rodovia de terra há meio século. “Tem mais de 30 anos que aguardamos o asfalto”, contabiliza. Ele lembra quando a obra chegou a ser iniciada, há cerca de três décadas. Foi feita uma terraplenagem, mas não avançou. Entre memórias e traumas, ele diz que a condição ruim do caminho impediu que sua mulher pudesse ser resgatada a tempo quando teve um problema de saúde. “Ela faleceu há quatro anos, a estrada não tinha jeito de passar. Não tivemos tempo nem recurso”, diz, resignado. 

Com a precariedade do trajeto, até o ônibus que fazia a linha entre Coronel Fabriciano e Raul Soares parou de rodar por ali. “Eles não olham nosso lado”, diz Osmar Gregório, que também mora colado à estrada de terra. O trabalhador rural precisa caminhar uma hora para chegar ao trabalho.

“Eles já começaram a asfaltar aqui umas quatro vezes, e pararam”, protesta. “Só acredito que o asfalto vai chegar depois que eu vir”, completa. O Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem (DER) informou que a obra está na lista de prioridades do governo – a gestão estadual anterior havia afirmado a mesma coisa. Os serviços de pavimentação do trecho de 70 km foram novamente iniciados, com previsão de finalização para dezembro deste ano. Os recursos advêm da indenização paga pela Vale devido ao rompimento da barragem em Brumadinho, tragédia ocorrida em janeiro de 2019.