Muito além de uma ideia

Empreender é sonho de quase metade dos brasileiros

Pesquisa do Sebrae aponta que 46% das pessoas querem ter o próprio negócio, enquanto 32% preferem fazer carreira em uma empresa

Por Lucas Morais
Publicado em 04 de janeiro de 2023 | 04:00
 
 
Mariana e Gabriela decidiram abrir o próprio negócio na área de veterinária Fred Magno/O Tempo

“No início, tudo é desafiador”. Assim resume a médica veterinária Mariana Vladmaker, 27, sobre a inserção no empreendedorismo. Sem perspectivas no mercado de trabalho tradicional após a formatura no ensino superior, ela tomou uma decisão: junto com uma amiga, pensou em como criar um negócio próprio – sonho de praticamente um de cada dois brasileiros. Muito além de uma ideia, a dupla buscou um produto diferente e que ainda dialogasse com a sustentabilidade, cada vez mais em voga no mundo atual. 

Com apenas R$ 5.000, Mariana e a sócia, Gabriela Pereira, 30, criaram a PetPee em outubro de 2020, uma empresa que produz tapete higiênico lavável para pets, que podem ser reutilizados. “Geralmente, as pessoas usam os descartáveis, mas muitos buscavam algo que pudesse ser reaproveitado. Além disso, produzimos estampas diferentes. Começamos com esse investimento muito baixo, crescemos bastante e atualmente já estudamos exportar para os Estados Unidos”, conta.

Em apenas oito meses de mercado, a empresa vendeu quase 2.000 tapetes e faturou R$ 120 mil. Mais do que os números, a ideia e a dedicação colocaram as amigas nas estatísticas. Assim como elas, 46% dos brasileiros querem ter o próprio negócio. Este é o terceiro maior sonho da população.

Os dados são do relatório do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) – maior pesquisa de empreendedorismo no mundo. Segundo o levantamento, o desejo de empreender supera o de fazer carreira em uma empresa, o que abrange 32% dos entrevistados. E as principais motivações são fazer a diferença no mundo (76%) e ganhar a vida (77%), uma vez que os empregos são escassos. 

“Eu sempre quis empreender. Quando me formei em veterinária, já estava com o pensamento nisso, por querer mesmo criar o meu próprio produto, ver acontecendo e sendo vendido para as pessoas. Eu queria fabricar algo que fosse legal aos tutores e aos pets. Por mais desafiador que seja, é muito gratificante ver sua marca crescendo, as pessoas reconhecendo seu produto, os pets usando. Empreender nos dá liberdade”, pontua.

Virada de sonho

Para o coordenador do MBA em finanças do Ibmec, Fabiano Santos, as gerações passadas tinham o sonho de trabalhar em uma empresa e construir uma carreira sólida, com um emprego para toda a vida, algo que mudou quase completamente. “Atualmente, as pessoas vêm com vontade de fazer mais coisas, se envolver em mais projetos, e esse emprego formal, com remuneração fixa e bônus de benefício, ele também já não encontra tanto hoje no mercado. Então, o empreendedorismo é o caminho onde você é o dono da sua carreira, das construções que você faz ao longo da vida”, argumenta.

A analista do Sebrae e especialista em empreendedorismo Rachel Dornelas concorda e acrescenta: “Se falarmos dos jovens, poderíamos falar sobre as dificuldades de acesso ao primeiro emprego ou à vontade de autonomia e liberdade. Se falarmos das mulheres, podemos incluir os desafios enfrentados por estas, principalmente quando se tornam mães. E temos também, entre tantos outros recortes, as pessoas com mais de 60 anos, cuja expectativa de vida aumentou, mas o mercado não reflete essa evolução dos tempos”.

Abrir o próprio negócio nem sempre é empreender

Quase sempre, empresas como a de Mariana, que cresceu tanto e já está com planos de exportar seus produtos, nascem bem pequenas. Porém, começar o próprio negócio é diferente do empreendedorismo. A essência do que caracteriza um e outro é justamente quem conduz o negócio – pessoas que possuem visão de negócio, capacidade para aproveitar as oportunidades e planejar o crescimento da empresa são empreendedoras, enquanto todo mundo pode ser um pequeno empresário. E também nem sempre um empreendedor é necessariamente quem fundou o negócio. 

Coordenador do Ibmec, Fabiano Santos destaca que há dois tipos de empreendedorismo: por necessidade ou oportunidade. “Quando a pessoa perde o emprego ou a fonte de renda, mas precisa continuar pagando as contas, ela pode acabar optando por empreender. O grande desafio dessa forma de empreendedorismo é a falta de planejamento, uma vez que, em virtude de uma situação atípica, você decide empreender e você não tem tempo hábil para planejar, até por uma necessidade de levantar recursos financeiros. E esse não planejamento pode levar a uma série de decisões erradas”, alerta.

Já o empreendedorismo de oportunidade acontece quando o profissional identifica uma lacuna no mercado e decide apostar nessa ideia. Apesar de ter uma carreira formal, há a preferência em formar um negócio com maior planejamento estratégico.

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Acompanhe o conteúdo da série de reportagens Muito além de uma ideia, produzida pela Mais Conteúdo, sobre como empreender do zero, os desafios, as ilusões e as áreas mais interessantes para se investir em 2023. Começa hoje (4) e vai até sexta-feira (6).