Abrir um negócio sozinho ou em sociedade, comprar uma franquia, começar vendendo pelo Instagram, colocar seus produtos num dos variados marketplaces existentes. Afinal, qual é o melhor caminho para começar a empreender? São variadas as opções, e, num cenário de mercado tão diverso, muitas são as dúvidas para quem quer ser dono do próprio negócio. Empreender vai muito além de uma boa ideia.

A consultora em gestão de negócios Patrícia Schneider, diretora executiva e cofundadora da Smart Business Lab, diz que o primeiro aspecto a ser avaliado é se você tem perfil empreendedor. Segundo ela, mesmo quem não tem habilidades para empreender pode desenvolvê-las.

“Saber quais competências são necessárias para empreender no que se quer é uma reflexão essencial. Uma das principais é ter disponibilidade. Muita gente tem filhos pequenos e pensa em empreender para trabalhar apenas quatro horas por dia. Todo e qualquer negócio, independentemente do tamanho, é dinâmico, exige dedicação, principalmente no início. O caminho do empreendedor é difícil, burocrático, tem que ter resiliência e persistência para continuar. Por isso ter um propósito é importante”, diz.

Motivo x motivação

Nesse cenário, a especialista ressalta a diferença entre motivo e motivação para abrir um negócio próprio. “Querer e precisar ganhar dinheiro são motivos para pensarmos em mudar de carreira, apostar em novo perfil profissional, arriscar uma empreitada. Já o que faz seu olho brilhar, te faz levantar da cama feliz por gostar da área em que atua e te dá capacidade de articulação e de jogo de cintura é sua motivação para aquilo. Quem empreende não vive de ‘jeitinho’; precisa de um ‘sevirômetro’, ou seja, fazer com que o negócio saia do lugar, capacidade de articular o que precisa, aonde quer chegar, não apenas com o que você tem, mas com sua rede de relacionamentos, o famoso networking”, acrescenta Patrícia Schneider.

Para quem quer abrir um negócio, a dica é analisar cinco fatores fundamentais: ter uma boa ideia e fazer pesquisa de mercado; ter competência técnica; avaliar se vai empreender sozinho ou com sócio;  avaliar o momento da vida em que se está; e o caminho da gestão que pretende seguir, se MEI, ME, para, pelo menos no início, simplificar processos, custos e tributação.

“Analise seu momento de vida, se é possível abrir mão temporariamente de um teto fixo mensal de remuneração. Depois, avalie o know-how que se tem da área em que pretende atuar, lembrando que não saber não é impeditivo. Mas esses são pontos cruciais, a meu ver, para não investir, se frustrar e quebrar em seis meses”, avalia. 

Depois dessa análise, é colocar a cabeça para pensar nas variadas possibilidades – de obtenção de crédito, a questão da governança e das perspectivas de crescimento da empresa, uma vez que as estatísticas mostram alto índice de fechamento nos cinco primeiros anos de vida do negócio. Para se ter ideia, 24,5% das micro e pequenas empresas mineiras abertas em 2017 fecharam até 2021,  diz estudo do Sebrae Minas apresentado na Feira do Empreendedor 2022, realizada em novembro último. Os comércios varejistas de vestuário e produtos alimentícios foram as atividades que tiveram maior fechamento no Estado, 33,7% e 33%, respectivamente.

Sobrevivência x oportunidade

“É necessário que se avalie se o seu empreendedorismo é de sobrevivência ou oportunidade. O de sobrevivência é aquele que a pessoa trabalha para viver e não se expande. A outra é ter uma sacada de um negócio, começar de uma forma, vislumbrar o crescimento e de fato se expandir”, comenta a consultora Patrícia, que revela que muitas pessoas procuram a Smart Lab com uma ideia e atestam que ela é ótima porque não há nada parecido no mercado. 

“Somos realistas: pode ser que não exista porque não há demanda para isso, alguém já teve o mesmo insight e fracassou. Outras vezes, o projeto é genial, mas não está no timing do mercado. Esse aspecto é crucial, pois as pessoas se apaixonam por suas ideias, mas precisam de um estudo de mercado para terem certeza de que o negócio pode ser positivo. Juntos, analisamos todos esses aspectos”, acrescenta.

Franquia

No caso das franquias, a consultora diz ser uma opção interessante e muito buscada, pelo fato de o negócio já estar pronto, mas se engana quem pensa que vai trabalhar menos. “Aliás, há vários mitos no perfil do empreendedor, de que vai ser dono do próprio nariz, não ter patrão. Mas vai ter cliente, funcionário e trabalhar até mais”, complementa Patrícia Schneider.


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