Mulher e negra. O preconceito, na análise da pedagoga industrial Valleria de Fatima Ambrósio de Jesus, existe, mas, para ela, o propósito de tudo tem que estar na vontade de fazer as coisas, na atitude. “Meus pais primavam pela educação, e eu corri atrás para ter uma profissão digna e trabalhei em grandes empresas. Tem que ter raça, coragem. Tenho 1,75 m, mas todo mundo acha que tenho 2 m, já chego chegando”, ensina Valleria, entre gargalhadas. Foi com essa garra que Valleria abandonou uma carreira bem-sucedida na área de recursos humanos de multinacionais e iniciou uma cruzada no empreendedorismo do setor educacional.
Em 2000, numa sala de 25 m² com dez cadeiras, fundou o Instituto Nacional de Orientação Profissional, de acompanhamento psíquicopedagógico, passando pela preparação para concursos públicos e vestibulares, até mudar a atuação e fundar a Meta Escola Técnica, em Belo Horizonte. Hoje, são 210 funcionários, sendo 170 professores. A média é de 1.800 alunos frequentes em dez cursos com duração de um ano e meio. Além da sede própria do Barreiro – que tem cinco andares, elevador, salas amplas, prédio anexo de três andares e capacidade para 5.000 alunos –, a empresária se prepara para iniciar as atividades da segunda unidade da Meta no centro da capital mineira.
As aulas começam em fevereiro de 2020 com capacidade para 1.500 alunos. “Em seis meses, eu espero já ter que mudar de lugar”, diz Valleria, em relação ao novo espaço da avenida Amazonas. A expansão da marca acontece devido à grande demanda dos alunos, pois muitos saem do centro da cidade para ir ao Barreiro. “Temos dois cursos técnicos online: segurança do trabalho e agrimensura. O endereço é metaescolatecnica.com.br e já leva para o site do online. Temos 250 cursos de capacitação para colocar no ar”, planeja.
Dentre os motivos de tanta procura pelos alunos – que pagam mensalidades de R$ 280 a R$ 350, além da possibilidade de bolsa de estudos –, Valleria lista dois: um deles é o acolhimento. “É o respeito ao aluno, é acreditar nele, transformar a vida das pessoas independentemente do valor que ele está pagando. Se chega um aluno que sempre pagou as mensalidades em dia e perdeu o emprego, ele não vai sair da escola”, explica. O outro diferencial é a capacitação dos professores. “Eles têm mestrado, doutorado, é uma seleção rigorosa. Somos referência em Minas Gerais na área de saúde. Em hospitais como Mater Dei, Unimed-BH, Felício Rocho, Madre Tereza e Biocor, temos muitos ex-alunos da nossa escola”, enumera Valleria. Outra área de especialização da Meta é o curso de mineração, que atende várias mineradoras. “Temos pessoas na Venezuela, Portugal, Austrália, Chile. E do curso de agrimensura, temos profissionais no Brasil inteiro”, comemora.
Treinamento
África do Sul. Valleria de Fatima Ambrósio de Jesus conta que a Meta Escola Técnica foi responsável por um treinamento numa mineradora, na África do Sul.
Sonho no lugar de estabilidade
Valleria de Fatima Ambrósio de Jesus sempre trabalhou em grandes empresas. “Teve uma empresa canadense em que eu ganhava em dólar, o salário era corrigido diariamente por conta das metas cumpridas e pelo câmbio”, lembra-se.
Em 2000, trabalhava na Coca-Cola com carro à disposição, salário bom, viagens, mas não se sentia feliz e quis sair: “Meu diretor perguntou se eu não era maluca com um país em dificuldades. Gente, desde que eu nasci, a palavra que sempre ouvi foi ‘crise’. Ele me disse que eu estava arriscando. Eu respondi que desde a gestação já se corre risco, a vida inteira”.
Quando abriu o Instituto Nacional de Orientação Profissional numa sala com dez cadeiras que a acompanham até hoje, a mãe, dona Francisca, e todos da família perguntaram: cadê a escola? “Eu disse que para mim é uma grande escola. No começo, nem minha mãe acreditou em mim”, conta. (HL)
Empresa já recebeu proposta dos EUA
O modelo de negócio da Meta Escola Técnica já recebeu propostas de fundos de investimentos, mas a fundadora, Valleria de Fatima Ambrósio de Jesus, não achou interessante. “Colocam dinheiro, a coisa cresce, e a qualidade, como fica?”, questiona. Valleria admite que recebe muitos convites para a abertura de novas unidades da Meta, mas o problema é falta de mão de obra. “Para manter a qualidade que eu quero, hoje não tem gente capacitada para trabalhar. Eu tenho que estar à frente de tudo, senão perde dinheiro”, explica a gestora, que tem proposta para abrir novas escolas em Betim e São João del Rei.
Primeira escola particular a ser credenciada no programa profissionalizante do governo estadual entre 2008 e 2015, quando o programa funcionou no governo de Minas e federal com o Pronatec, Valleria já recebeu outros convites. “Tive proposta para abrir escola técnica nos Estados Unidos, que tem um déficit de 2 milhões de técnicos. Eles querem um negócio que abra para dar certo”, informa.
Agora é trabalhar pelos “vários filhos”, como Valleria se refere aos alunos. Na sede da Meta, financiada pelo próprio movimento da escola, Valleria recorda-se: “Tudo que entrava na escola era para pagar funcionários, as parcelas do lote, funcionários na obra e o material de construção. Eu consegui pagar tudo sem pegar um centavo em banco”, conta. (HL)