A presidente autoproclamada da Bolívia, Jeanine Áñez, designou na noite de quarta-feira seus primeiros 11 ministros, um dia após assumir o poder sem votação no Congresso por conta da renúncia de Evo Morales. 

Na nova equipe, estão senadores do próprio partido, Unidade Democrata, que ficou em quarto lugar na contestada eleição presidencial que deu vitória a Morales, e de uma ala radical representada pelo senador Arturo Murillo, nomeado ministro do Interior.

Embora o tom do discurso de Áñez tenha sido moderado, prometendo “restabelecer a paz social”, Murillo anunciou uma caçada a Juan Ramón Quintana, ex-ministro do governo de Morales, pouco depois de tomar posse, acusando este e Raúl García Linera, irmão do ex-vice-presidente Álvaro García Linera, de serem responsáveis por convulsionar o país com mobilizações contra Áñez.

Ameaçando o ex-ministro, um dos homens de confiança de Morales, Murillo lembrou que ele ainda está no país e ameaçou prendê-lo por “sedição”.

Áñez, por sua vez, reafirmou que o principal desafio do governo é convocar novas eleições o mais rapidamente possível, mas não anunciou datas. Ela disse que Morales “não está habilitado” para se candidatar a um quarto mandato nas próximas eleições, após a anulação do pleito de outubro por “irregularidades”.

Em outra medida na contramão do tom adotado por Murillo, o ministro de Governo, Jerjes Justiniano, anunciou que o governo interino e parlamentares do Movimiento al Socialismo (MAS), partido de Morales, instalaram uma “mesa de negociação” para pacificar o país. 

Há ainda outros nomes vindos da cidade de Santa Cruz de la Sierra, reduto da oposição liderada por Luis Fernando Camacho, presidente do poderoso Comitê Cívico do departamento (equivalente a Estado) oriental: Justiniano é um advogado diretamente ligado a Camacho; o das Finanças, José Luis Parada, era assessor econômico do governo do departamento.

Em sua primeira medida internacional, a nova chanceler, Karen Longaric Longari, reconheceu o Juan Guaidó, autoproclamado presidente da Venezuela em janeiro deste ano, como presidente legítimo. Guaidó havia felicitado Áñez um dia antes.

"Vamos voltar cedo ou tarde", diz Morales

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales, asilado no México, disse que voltaria para “pacificar” seu país se os bolivianos pedissem. Foi a primeira coletiva de imprensa no exílio, aonde chegou na terça-feira em um avião militar mexicano. Ele reiterou que sua renúncia visou a conter a onda de violência que atingiu o seu país desde as acusações da oposição de que havia ocorrido fraude na eleição presidencial de 20 de outubro.

“Se meu povo pedir, estamos dispostos a voltar para apaziguar, mas é importante o diálogo nacional”, disse Morales, acrescentando: “Vamos voltar cedo ou tarde”. Ontem, o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, disse em Montevidéu que oferecerá asilo político a Morales depois de sua posse em 10 de dezembro.