A repressão contra as manifestações indígenas no Equador esquentou na madrugada desta quinta-feira (10), quando a polícia entrou no campus da Universidade Pública Salesiana, onde muitos deles estão acampados, atirando bombas de gás lacrimogêneo e surpreendendo aos que haviam ido até lá para descansar.
Tanto o governo como as entidades indígenas haviam chegado a um acordo de que a universidade seria uma "zona de paz", uma vez que tinha se oferecido para que fosse um local de repouso dos manifestantes.
Ainda assim, a polícia entrou no local, bem como na Casa de la Cultura e no acampamento no parque El Arbolito - igualmente designados como zonas sem conflitos - e tentou dispersar os indígenas. Além de bombas de gás lacrimogêneo, agrediram a muitos com golpes de bastão.
Por outro lado, na manhã desta quinta as lideranças indígenas negaram que tenham começado os diálogos com o governo - como o presidente Lenín Moreno afirmou no dia anterior - , e disseram que seguem mobilizados até que se derrogue a decisão de eliminar o subsídio ao combustível.
Um indígena foi morto nas manifestações de quarta (9). É o terceiro óbito desde que os protestos começaram, no dia 3. Ao menos 766 pessoas foram feridas.
O levante ocorre devido a um acordo assinado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), que garantirá um empréstimo de US$ 4,2 bilhões (R$ 17,05 bilhões) ao país. Em contrapartida, o governo tem de adotar medidas como o corte de um subsídio a combustíveis em vigor há 40 anos.
A decisão gerou um aumento de até 123% nos preços da gasolina e do diesel e revoltou a população. Na terça (8), o presidente afirmou que não voltará atrás no corte dos subsídios e negou que vá renunciar.
Também foram registrados saques em mercados de comida em Quito e em Guayaquil. Os comerciantes disseram a veículos de imprensa locais que não irão abrir seus negócios enquanto o governo não garantir a segurança. A maioria dos comércios da capital está fechada.
Em um giro por bairros fora do centro na noite de quarta (9), a reportagem notou pouca gente nas ruas e poucos restaurantes abertos. Os que ousam abrir ficam lotados.
Num restaurante italiano, o gerente dizia que a ideia é permanecer atendendo os clientes, mas que começam a faltar ingredientes para produzir as refeições, uma vez que os fornecedores não têm como trazê-los à capital.
Moreno regressou a Quito na quarta (9), para monitorar a situação com os manifestantes. Ele estava na cidade costeira de Guayaquil, a 400 km da capital, para onde transferiu a sede do governo devido à violência dos protestos em Quito.
Os prédios do governo na capital estão protegidos por cercas, arame farpado e forte guarda da polícia.
CRONOLOGIA DOS PROTESTOS
21/2
Equador e FMI acordam pacote de R$ 17 bilhões; órgão exige que país adote medidas de austeridade
3/10
Governo põe fim a subsídios de combustíveis, e preços sobem até 123%. Protestos começam e Executivo declara estado de exceção
4/10
Mais de 350 pessoas são presas e 21 policiais ficam feridos. Grupo de 47 militares fica retido em comunidade indígena
5/10
Trabalhadores do setor de transporte anunciam fim da greve, mas indígenas e sindicatos seguem mobilizados. Presos já são 379, e agentes feridos, 59
6/10
Vinte são presos por cobrar preços abusivos de alimentos. Um homem morre após ambulância ficar bloqueada em estrada
7/10
Presidente transfere sede do governo para Guayaquil e acusa seu antecessor, Rafael Correa, de tentar um golpe de Estado
9/10
Indígenas lideram greve geral no país
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