Nesta entrevista, Içen fala sobre as semelhanças entre os dois povos e conta como os visitantes que chegam a Belo Horizonte comparam a cidade à região turca da Anatólia, sinônimo de lugar carinhoso e com natureza acolhedora.

As relações diplomáticas entre o Brasil e a Turquia tiveram início com a assinatura do Tratado Bilateral de Amizade e Comércio, em 1858. Depois, houve significativo estreitamento dos laços entre os dois países na primeira década do século XXI.

Politicamente, Brasil e Turquia defendem o fortalecimento de instituições multilaterais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o G-20 econômico. Mas vários outros aspectos marcam a relação entre os dois países: a paixão pelo futebol, refletida na grande presença de jogadores brasileiros em equipes turcas; o crescimento do turismo; e o intercâmbio cultural.

Na entrevista que se segue, Ahmet Inanç Içen, coordenador de atividades do Centro Cultural Brasil-Turquia (CCBT) em Belo Horizonte, fala sobre outras semelhanças entre os dois países.

Quais as funções do CCBT?

O Centro Cultural Brasil-Turquia é uma instituição não governamental fundada em 2011 por turcos e brasileiros com o objetivo de estreitar as relações entre países, realizando atividades culturais, acadêmicas e sociais. Em um primeiro momento, começou suas atividades em São Paulo, onde fica sua matriz e duas unidades. Agora o CCBT tem filiais em Brasília, no Rio de Janeiro e na capital mineira.

Quais são as atividades que o CCBT realiza?

As principais atividades do CCBT são cursos de língua e cultura, tanto em seu próprio espaço quanto em outras instituições; intercâmbio cultural e acadêmico; cursos de artes e músicas; concertos; exposições; apresentações; palestras; seminários e conferências; viagens culturais e institucionais; consultoria; e serviços de tradução e interpretação entre o turco e o português.

Quais as realizações mais recentes do CCBT?

Recentemente, o CCBT realizou a edição latino-americana de um dos maiores festivais do mundo: o IFLC, sigla para Festival Internacional de Língua e Cultura. No festival, jovens de dez a 18 anos de idade de todos os cantos do mundo se encontram e apresentam, com trajes típicos, as músicas e as danças de seus países, através de organizações sociais, culturais e educacionais. Ou seja, cada um deles apresenta sua própria cultura e aprende com os outros. No Brasil tivemos participação de jovens de 16 países.

No mês passado, o CCBT organizou uma conferência internacional sobre terrorismo com o objetivo de promover um debate sobre as causas e as consequências dessas ações ao redor do mundo, focando o papel das mídias, das religiões e dos intelectuais diante desse fenômeno que vem destruindo nosso patrimônio e valores. 

A conferência reuniu acadêmicos, pesquisadores, líderes religiosos, jornalistas e intelectuais com vistas à novas abordagens, perspectivas e diálogos de vários cantos do mundo. E realmente foi um sucesso. Tivemos uma participação recorde de público e repercutiu muito no Brasil.

Quais atividades vocês já desenvolvem em Belo Horizonte? E quais vão ocorrer no futuro?

Oferecemos aqui cursos de língua e cultura, fazemos palestras e prestamos serviços de consultoria, de tradução e de interpretação. Em futuro próximo, temos planos de organizar exposições fotográficas e um festival de cinema turco.

Como é a adaptação dos turcos à rotina brasileira? Você percebe muitas dificuldades?

(Risos) sim e não. Tudo depende da pessoa. É claro que existem costumes brasileiros que um turco nunca poderá se acostumar, como algumas comidas típicas. Por outro lado, temos muito a aprender com os brasileiros. Um bom exemplo é como manter a calma nas situações irritantes (risos).

Existem muitas semelhanças entre o Brasil e a Turquia?

Sim, muitas. Eu diria que o que mais salta aos olhos é o calor humano. Histórias recentes dos dois países também mostram muitas semelhanças. Mesmo distantes, sofremos com os mesmos traumas.
Recebemos muitas visitas da Turquia aqui em Belo Horizonte. Depois de um passeio pela cidade e de conhecer algumas pessoas, a primeira observação dos turcos sobre Belo Horizonte é sempre a seguinte: “É como uma cidade da Anatólia”. Uma grande parte da Turquia fica na Anatólia, a parte asiática do país. Pessoa anatoliana, cidade anatoliana... tudo que é anatoliano é carinhoso, humilde e de natureza acolhedora.

Você acha que as diferenças são um fator problemático?

Não. Tudo é uma vantagem para nós. E o que tentamos fazer é apresentar nossas semelhanças e diferenças de forma que tanto os brasileiros quanto os turcos se interessem em conhecer e compreender melhor uns os outros. As semelhanças servem como pontes, e as diferenças, como oportunidades de novos aprendizados.

Particularmente, como foi sua chegada ao Brasil?

Sou de uma pequena cidade perto de Istambul chamada Luleburgaz. Vim ao Brasil justamente a convite do CCBT. Éramos um grupo de universitários. Hoje, alguns desses amigos turcos já são formados e trabalham aqui como eu.

O jornalista turco Yavuz Ugurtas está no Brasil colaborando com o jornal O TEMPO