As infecções pelo SARS-CoV2, o vírus causador da Covid-19, iniciaram em dezembro de 2019, na região chinesa de Wuhan. Poucos meses depois vários países no mundo já começavam a contabilizar os casos.

Os maiores receios eram um número elevado de mortes secundárias a quadros respiratórios e a sobrecarga dos sistemas de saúde. Fatos que já ocorreram em países europeus e que vêm acontecendo em alguns Estados brasileiros.

Já perdemos mais de 68 mil vidas para a Covid. Isso considerando os dados do Ministério da Saúde e ficando com uma pergunta no ar: qual a magnitude da subnotificação? E qual a relação da neurologia com a Covid-19?

O primeiro impacto é o da dificuldade de acompanhamento dos pacientes que já apresentam alguma doença neurológica e que não puderam comparecer aos atendimentos. O isolamento social, medida que se mostrou eficaz e necessária, dificultou muito este processo. Vários neurologistas fecharam os atendimentos ambulatoriais e vários pacientes deixaram de ir às consultas para se protegerem.

O acidente vascular cerebral (AVC) é tradicionalmente uma doença relacionada aos fatores de risco cardiovasculares, principalmente hipertensão arterial, idade avançada, tabagismo e diabetes. Algumas infecções têm relação com o AVC e podem ser citadas como exemplo a sífilis (por meio de uma inflamação dos vasos – vasculite) e a doença de Chagas (por meio da cardiopatia que leva à formação de coágulos no coração).

Aparentemente, o SARS-CoV2 não provoca alguma ação direta nos vasos cerebrais. Entretanto, cerca de 5% dos pacientes hospitalizados por Covid em Wuhan apresentaram AVC e foi relatada uma série de cinco casos de AVC em jovens na cidade de Nova York. Em outras epidemias provocadas por coronavírus, também foram observadas maiores frequências de AVC.

A possível relação entre a Covid e o AVC pode estar escondida em fenômenos relacionados ao processo de coagulação e à disfunção da camada mais interna dos vasos sanguíneos, o endotélio.

Ainda não existem relatos precisos de infecção do sistema nervoso central pelo vírus. Entretanto, já existem alguns relatos de síndrome de Guilláin-Barré em pacientes com Covid-19. Tal fenômeno é comum nas infecções pelos vírus da dengue e da Zika. A síndrome de Guilláin-Barré consiste em um ataque de anticorpos ao sistema nervoso periférico, atingindo os nervos periféricos e levando a um quadro de fraqueza muscular ascendente (começa nos membros inferiores e pode progredir aos membros superiores). Alguns pacientes podem necessitar de ventilação mecânica devido a fraqueza da musculatura respiratória.

Um ponto importante a ser considerado é o desenvolvimento de patologias neurológicas devido ao tratamento prolongado em terapia intensiva. Pacientes que passam muitos dias entubados têm chance de desenvolver lesão de músculos e nervos periféricos (miopatia e neuropatia do doente crítico, respectivamente) e apresentar fraqueza significativa após a recuperação da doença aguda.

As ciências médicas estão em constante mudança, é possível que em algumas semanas apareçam outros fatos relacionando o SARS-CoV2 e condições neurológicas. É muito importante que estudos científicos sejam conduzidos com todo o rigor para que possamos ter o melhor do conhecimento para os cuidados da saúde das pessoas.