No próximo ano haverá eleições municipais no país, quando os eleitores dos 5.570 municípios elegerão prefeitos (pelo voto majoritário) e vereadores (pelo voto proporcional). A importância desse evento pode ser resumida em três aspectos: definirá a capilaridade dos partidos políticos no país, pautará a agenda do Congresso Nacional em 2024 e estabelecerá as bases para a disputa pelos governos estaduais e pela Presidência da República, em 2026.

Ao longo deste século (XXI), foi ocorrendo uma reestruturação partidária no Brasil, com o enfraquecimento de legendas tradicionais, como (P)MDB, PSDB, DEM (agora fundido com o PSL, no União Brasil), PTB (agora fundido com o Patriota, no PRD). Por outro lado, partidos até então pequenos viraram grandes partidos, como PL, PP, Republicanos e PSD. Essa reestruturação partidária atingiu a representação dos partidos nas prefeituras do país e, também, de Minas Gerais.

Em 2020, ano da última eleição municipal, os dez maiores partidos, em número de prefeituras conquistadas, foram, em ordem decrescente: MDB (799 prefeituras), PP (701), PSD (660), União Brasil (na época não existia, mas DEM e PSL conseguiram, juntos, 568 prefeituras), PSDB (531), PL (348), PDT (318), PSB (259), Republicanos (216) e PT (182). Em termos de perfil ideológico, seis são de centro-direita a direita (MDB, PP, PSD, União Brasil, PL e Republicanos) e quatro são de centro-esquerda a esquerda (PSDB, PDT, PSB e PT).

Logo, os maiores partidos de centro-direita a direita conquistaram, em 2020, 3.292 prefeituras (59% das prefeituras do país), enquanto os maiores de centro-esquerda a esquerda conquistaram 1.290 prefeituras (23% das prefeituras do país).

Em Minas Gerais, em 2020, os dez maiores partidos, em número de prefeituras conquistadas, foram, em ordem decrescente: MDB (100 prefeituras), União Brasil (100), PSDB (86), PSD (79), PP (67), PRD (na época não existia, mas PTB e Patriota conseguiram, juntos, 60 prefeituras), Avante (50), PSB (47), PL (41) e Republicanos (41). Em termos de perfil ideológico, sete são de centro-direita a direita (MDB, União Brasil, PSD, PP, PRD, PL e Republicanos) e três são de centro-esquerda a esquerda (PSDB, Avante e PSB). 

Logo, os maiores partidos de centro-direita a direita conquistaram, em 2020, 488 prefeituras (57% das prefeituras de Minas Gerais), enquanto os maiores partidos de centro-esquerda a esquerda conquistaram 183 prefeituras (21% das prefeituras de Minas Gerais).

Quando comparamos os dados do Brasil com os de Minas Gerais, não há alteração significativa na representação do bloco de direita a centro-direita e no bloco de esquerda a centro-esquerda. E estamos falando dos dez maiores partidos, pois há outros menores que não foram contabilizados. 

Em termos de partidos, dois em Minas Gerais estão no grupo dos maiores, mas o mesmo não acontece para eles no Brasil (Avante e PRD). Por outro lado, PDT e PT, que estão entre os dez maiores no Brasil, não ficam entre os dez maiores em Minas.

Apesar da fragmentação partidária existente, é possível identificar dois blocos ideológicos que têm atuado nas eleições municipais, que possuem uma característica marcante: é uma disputa polarizada. Isso acontece porque a grande maioria dos municípios tem eleitorado que não atinge o número necessário para haver um segundo turno. 

Logo, as eleições nesses municípios são de um turno apenas, e isso força a polarização, com poucos candidatos concorrendo (dificilmente passa de três candidatos). Consequentemente, são disputas acirradas e polêmicas, que alimentam a polarização ideológica.

Adriano Cerqueira é Cientista político e professor do Ibmec-BH