Opinião

A falsa moral dos justiceiros da internet

A questão da morte de João Alberto Freitas

Por Bartô
Publicado em 01 de dezembro de 2020 | 03:00
 
 

O principal assunto da semana passada foi um crime ocorrido em um Carrefour em Porto Alegre, onde seguranças espancaram até a morte um homem chamado João Alberto Freitas. O fato ganhou conotação simbólica por João Alberto ser negro e ter sido morto na véspera do Dia da Consciência Negra. Grande parte da mídia e de influenciadores fizeram questão de afirmar do que se tratava o crime: racismo.

É um fato impossível de se negar que no mundo inteiro pessoas morreram e ainda morrem por serem de raça diferente de seus agressores. Existem inclusive grupos organizados com o intuito de cometer crimes contra aqueles que julgam ser diferentes. Mas não podemos cair na armadilha de dizer que todos os negros que são mortos morrem por serem negros. Milhares são mortos todos os anos em nosso país por diversas motivações que nada têm a ver com discriminação racial. Latrocínio não é racismo. Homicídio doloso nem sempre é racismo.

Existe a possibilidade de ele ter sido espancado e morto por ser negro? Parece muito improvável, especialmente por tudo o que foi dito e mostrado pelas câmeras. O racismo por si só não parece, portanto, uma forma honesta de explicar as motivações do crime. Mas, o que vimos foi a propagação rápida de uma histeria coletiva que julgou o crime, ignorando a responsabilidade dos seguranças e culpando o supermercado, que teve lojas vandalizadas.

O crime está sendo investigado e ainda será julgado pelo Poder Judiciário, porém fica claro que a narrativa, criada por setores da mídia claramente engajados politicamente, fizeram questão de dar sua sentença e criaram um ambiente onde qualquer pessoa que questionasse se houve crime de racismo seria também automaticamente acusada de racista. Pessoas ficam intimidadas com esse ambiente, onde só quem compra o discurso dominante é moralmente virtuoso e, dessa forma, acabam se omitindo no questionamento.

E o questionamento que deve ser feito é: quem ganha com a propagação desse tipo de narrativa? Não precisamos ir muito longe para levantarmos ao menos uma suspeita. Neste ano, nos EUA, a morte de um negro pela polícia desencadeou uma série de protestos, nos quais manifestantes intimidavam aqueles que não demonstravam apoio aos movimentos, que foram marcados por violência, depredação e mortes, inclusive de negros. Enquanto isso, estava acontecendo uma eleição presidencial em que Donal Trump, atual presidente, era apontado como culpado pelo clima de tensão, enquanto seu opositor, Joe Biden, se dizia o único capaz de pacificar o país.

É bom ter muito cuidado com discursos fabricados por grupos que dizem sinalizar algum tipo de virtude quando na verdade o que querem é poder. Sim, racismo é algo execrável e deve ser combatido. Mas ser antirracista não significa que não devemos ser críticos com aqueles que apontam e enxergam racismo em tudo e aproveitam a comoção para fazer discursos que estimulam ainda mais divisão e o ódio. Se houve um crime, que seja julgado pela Justiça, e não por justiceiros sociais da internet.