Opinião

A produção da aquicultura de Minas Gerais

Dos ‘mares’ mineiros para a mesa dos consumidores

Por Pedro Hudson Cordeiro
Publicado em 16 de abril de 2024 | 07:00
 
 
Pedro Hudson Cordeiro A produção da aquicultura de Minas Geraisjpg Foto: Ilustração/O Tempo

Ocupando o primeiro lugar nacional na produção de leite e café, segundo na produção de feijão, terceiro na produção de ovos e cana e estando entre os cinco principais produtores de gêneros como milho e soja, Minas Gerais está em primeiro lugar na variedade de culturas agrícolas. Ademais, há um setor que, seguindo a tendência nacional, vem aumentando sua participação na produção agropecuária mineira, ainda que timidamente: a aquicultura.

A aquicultura é o cultivo em cativeiro de organismos que, em condições naturais, se desenvolvem no meio aquático. A aquicultura tem se mostrado uma alternativa para reduzir o impacto nos mares da crescente demanda por proteína animal, como resultado do aumento populacional e da renda das famílias. No Brasil, os principais setores da aquicultura são a piscicultura (criação de peixes); a carcinicultura (camarões) e a malacocultura (ostras, vieiras e mexilhões). Outros setores aquícolas existentes, mas em pequena escala, envolvem a criação de rãs, jacarés, lagostas e algas. Em Minas, o único setor da aquicultura devidamente estruturado é a piscicultura, embora existam projetos de criação de camarões, com produção ainda incipiente.

Com relação à quantidade produzida, Minas ocupa o sexto lugar no ranking nacional. Os dados variam a depender da fonte: segundo o IBGE, em 2022 a produção aquícola mineira foi de 37,6 mil toneladas; já a PeixeBr, entidade que congrega os agentes da piscicultura nacional, afirma que, no citado ano, a produção mineira foi de 55 mil toneladas. 

Fato é que o ritmo de crescimento da aquicultura local tem sido superior à média nacional. Entre 2013 e 2022, a produção nacional cresceu 55,2%. Já a produção mineira cresceu 140%, saltando de 15,7 mil para 37,6 mil toneladas anuais (IBGE), fazendo com que a proporção do Estado fosse de 3% para 5% do total nacional.

Apesar de não exportar diretamente produtos aquícolas para o exterior, há um considerável comércio da produção local para outros Estados. Desenvolvida primordialmente nos lagos de hidrelétricas, como a de Três Marias e Furnas, a atividade pode ser compreendida melhor em números: embora seja apenas 0,34% do valor da produção agropecuária de Minas Gerais, a atividade aquícola está presente em 474 municípios, empregando 2.700 trabalhadores, distribuídos em 1.300 estabelecimentos produtores. Isso sem contar o número de empregos gerados pelos 48 frigoríficos (legalizados), 14 fábricas de ração e 8 laboratórios de alevinos espalhados pelo Estado.

Embora mais de 16 espécies aquícolas sejam criadas em Minas, uma chama atenção: a tilápia. A espécie corresponde à 95% da produção do Estado (a média nacional é 55%). Com uma produção estimada em 52 mil toneladas (conforme a PeixeBr), o Estado ocupa o terceiro lugar nacional na produção de tilápia (9% do total) e é nele que se situa o quarto maior município produtor do país: Morada Nova de Minas. Localizado na região Central, às margens da represa de Três Marias, o município produz mais de 20 mil toneladas anuais (40% da produção mineira) e se destaca nacionalmente pelo seu dinamismo, contando com todos os agentes da cadeia produtiva: criadouros de alevinos, fábrica de ração, pisciculturas e frigoríficos.

Nos próximos anos a produção aquícola mineira deve seguir crescendo, contribuindo para aumentar a oferta de pescados, gerando também mais emprego e renda para as famílias. Sendo uma atividade com potencial para dinamizar a economia de pequenas cidades do interior, deve receber cada vez mais atenção por parte dos agentes econômicos, como forma de potencializar e diversificar ainda mais a rica produção agropecuária de Minas Gerais.

Pedro Hudson Cordeiro
Professor do Ibmec-BH, demógrafo
e doutorando em economia