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Opinião

Coronavírus, idade e congelamento de óvulos

Publicado em: Sáb, 23/05/20 - 03h00

Um dos maiores desafios da medicina reprodutiva ou para quem deseja uma gravidez é o fator tempo. Como a mulher nasce com todos os óvulos que vai usar durante a vida, isto é, sem que haja renovação, a quantidade de óvulos vai diminuir e a qualidade vai mudar.

Com essa mudança na qualidade e na quantidade, haverá uma diminuição na chance de gravidez. Nesse momento de confinamento devido à Covid-19, em que pensamos em atrasar o projeto de gravidez, é importante lembrarmos dessa limitação.

Os óvulos são as células reprodutivas femininas e ficam dentro de pequenas vesículas, chamadas de folículos que, por sua vez, estão dentro dos ovários. O folículo tem a capacidade de se desenvolver e liberar um óvulo (ovulação) durante o ciclo menstrual.

O grupo de folículos que está dentro dos ovários constitui a reserva ovariana. Essa reserva é formada durante a vida intrauterina, até a metade da gravidez. Após o nascimento, não existe mais a produção de óvulos — ao contrário do homem, que continua produzindo espermatozoides durante toda a idade reprodutiva.

Assim, os folículos (com os óvulos em seu interior) permanecem em repouso e, com a chegada da puberdade, passam por processos de crescimento e ovulação, durante os ciclos menstruais.

O número estimado de folículos ovarianos na menina recém-nascida é de cerca de um milhão. Entre o nascimento e a puberdade, mesmo não ocorrendo desenvolvimento dos folículos, existe uma perda muito grande. Esse declínio pode ser explicado por um processo de morte celular programada.

Estima-se que o número de folículos à puberdade, seja de aproximadamente 300 mil. A partir da puberdade, com o início dos ciclos menstruais, a perda de óvulos é continua e ininterrupta, até o completo esgotamento dos folículos. O término dos folículos determina o surgimento da menopausa.

A redução do número de folículos ovarianos e, principalmente, a piora na qualidade impacta diretamente na chance de gravidez. Por essa razão, mulheres com idade avançada encontram mais dificuldades para engravidar.

Assim, o ideal é que as mulheres tenham sua gravidez antes dos 35 anos de idade, pois a partir dessa idade a chance de gravidez começa a diminuir. Para os casos em que se deseja ou se precise atrasar o projeto gravidez a melhor alternativa é o congelamento de óvulos.

Nesse processo, realiza-se a estimulação ovariana que possibilita o crescimento de vários folículos e a obtenção de um número maior de óvulos que são armazenados a uma temperatura de -196ºC graus. Os óvulos podem permanecer criopreservados por tempo indeterminado, até que a mulher necessite ou seja possível. Assim, a chance de gravidez, com esses óvulos congelados é mantida, mesmo com o passar dos anos. A taxa de gravidez é comparável aos ciclos de fertilização in vitro habitual.

Não havendo a necessidade, os óvulos podem ser descartados em qualquer momento. Mas, se houver a necessidade, os óvulos serão descongelados, fecundados em laboratório, isto é, in vitro, e os embriões formados serão transferidos para o útero.

Muito importante lembrar que, mesmo após os 35 anos, os óvulos podem ser congelados, mas a chance de gravidez vai diminuir como o passar do tempo. Assim, quando mais jovem maior a chance.

Selmo Geber é membro titular da Academia Mineira de Medicina e médico da Clínica Origen.

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