As palavras do papa João Paulo II, dirigidas aos bispos brasileiros em 1986, continuam vivas e pertinentes. Naquela época, como nos dias atuais, os problemas e injustiças sociais exigiam dos cristãos católicos uma atuação vigorosa e decisiva. Nesse sentido, a Campanha da Fraternidade – com o tema da educação e o lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” – insere-se não apenas entre as ações úteis, oportunas e necessárias, mas principalmente entre as ações proféticas e, portanto, essenciais a serem desenvolvidas pela Igreja Católica no Brasil.
O tema é amplo, e, por isso, múltiplas podem ser as abordagens a serem realizadas. Afinal, a educação é um processo permanente que deve envolver a todos e todas: família, escolas, universidades, pastorais, igrejas, meios de comunicação, redes sociais, ONGs, sindicatos, poderes públicos etc.
A reflexão que se pretende realizar inicia-se com o reconhecimento da importância da educação. Diante disso, a escolha torna-se essencial no momento presente como instrumento para a superação da mentalidade negacionista e seus efeitos perniciosos sobre o cotidiano das pessoas. A negação não é um elemento ruim, faz parte da experiência humana, como, por exemplo, no caso da existência de uma opressão, a resistência, enquanto mecanismo de negação, configura-se em algo positivo.
Contudo, é necessário considerar os aspectos maléficos que se constituem nas manifestações do chamado “negacionismo”. O primeiro deles é o ato de negar a ciência. Pela sua própria natureza e definição, a ciência não se reivindica como uma verdade universal e absoluta.
Entretanto, é inegável que seus avanços, no decorrer da história, têm trazido grandes benefícios à humanidade. Reflitamos: no caso da pandemia da Covid-19, o negacionismo da ciência tornou-se ainda mais fatal. Quantas vidas teriam sido salvas se as pessoas não negassem a vacina ou a própria existência do vírus?!
Outras milhares vidas teriam sido salvas se os tratamentos ineficazes fossem substituídos por medidas de proteção sanitária e a utilização das vacinas.
Mais uma manifestação do negacionismo está vinculada à fé. Nossa ação consciente deve nos fazer enxergar aqueles praticantes dessa forma de negação “de dentro pra fora”, ou seja, aqueles que exercem sua fé a partir de posturas de intolerância, preconceito e fundamentalismo religioso. E isso está em total desacordo com os ensinamentos de Cristo, o bom pastor (Jo, 10:11), que busca a ovelha perdida e a acolhe, pois “o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”.
As lições de amor ao próximo, respeito e solidariedade com aqueles que sofrem são princípios fundamentais do cristianismo. Infelizmente, assistimos ao distanciamento e ao surgimento de novas perspectivas que colocam todos contra todos.
Um caminho pleno somente será alcançado se a humanidade compreender que a jornada terrena se faz na interação entre todos e todas.
Sejamos humildes para assimilar a orientação do texto-base da Campanha da Fraternidade quando nos convida a experienciar a pedagogia de Cristo, ao partilhar os ensinamentos com simplicidade, numa linguagem acessível e repleta de experiências cotidianas.
É com o olhar na pedagogia de Jesus, mestre dos mestres, que a Igreja no Brasil lançou o tema da Campanha da Fraternidade no dia 2 de março, Quarta-feira de Cinzas, início do período quaresmal.
Que o Deus trino e misericordioso toque todos os corações por meio da Campanha da Fraternidade e nos permita afirmar a fé e a ciência como pilares de sustentação da caminhada humana.