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Opinião

Na internet, a resistência cultural

Publicado em: Ter, 28/07/20 - 03h00

Não há país autônomo e livre sem uma cultura forte, que expresse a diversidade das manifestações do povo, atuando em prol de sua emancipação e da sua felicidade, sem preconceito de qualquer natureza. Capazes de inventar outros mundos e de sonhar com o que parece impossível, os artistas apresentam novas possibilidades para a realização das utopias e o alargamento dos horizontes, convidando o público a experimentar a alegria, a beleza e, por que não, o estranhamento e o espanto, fundamentais para a evolução, a mudança e o crescimento intelectual.

Se é assim na música e nas artes visuais, é também na literatura, incumbida de imaginar, por meio da língua, histórias que representem, surpreendam e encantem as suas audiências.

Fundada há 11 décadas para promover a Literatura e a Língua Portuguesa, a Academia Mineira de Letras (AML) não abdicou de sua tarefa primordial durante a quarentena. Pelo contrário. Foi à luta. Impossibilitada – pelo acolhimento dos princípios básicos da vida em sociedade, pelo respeito à ciência, à lógica e ao bom senso – de realizar suas intensas atividades presenciais, escolheu a arena da rede mundial de computadores como o foco de sua atuação, e aí resiste, bravamente, como é possível agora, em favor da inteligência e da civilização, tão atacadas nos últimos anos pela onda de ignorância e de truculência que atingiu várias partes do planeta. Presente no Facebook, também dinamizou o seu site e o seu Instagram, recheando-os com resenhas e dicas de livros e de bons autores.

No seu canal no YouTube posta, toda semana, um vídeo inédito e exclusivo, voltado para temas profundos e relevantes, que agreguem as pessoas em torno do conhecimento, da reflexão e da crítica. A resposta dos internautas tem sido estimulante. Em pouco mais de três meses, a AML conquistou mais de 800 seguidores, contrariando os que acreditam que as redes sociais se prestam apenas ao que é fútil ou tolo.

Desde maio, a Casa de Alphonsus de Guimaraens vem provando que é plenamente possível fazer programação cultural de alta qualidade em veículos muitas vezes conhecidos como divulgadores de frivolidades. Palestras de acadêmicos como Caio Boschi, Luís Giffoni, Wander Melo Miranda, Pedro Rogério Moreira, Olavo Romano e Jacyntho Lins Brandão conquistaram, rapidamente, centenas de visualizações, resultado do vigor de sua mensagem.

A poesia também mostrou a sua força. A leitura da obra poética da acadêmica Yeda Prates Bernis gerou enorme repercussão. A caminho, mais duas edições especiais: um sarau dedicado a Henriqueta Lisboa e o outro a Maria José de Queiroz, sob a curadoria de Lyslei Nascimento, especialista na obra da ocupante da cadeira de número 40.

No momento em que só se fala em doença e em morte, o que pode ser mais redentor que a fruição de um poema?

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