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O impacto político do laptop do filho de Biden

Eleições legislativas do meio de mandato e imagem do presidente

Por Lucas Rodrigues Azambuja
Publicado em 13 de abril de 2022 | 03:00
 
 

Próximo da eleição presidencial de 2020 nos EUA, o jornal “New York Post” publicou uma matéria acusando Hunter Biden, filho de Joe Biden, de corrupção em negócios no exterior. A matéria havia sido baseada em milhares de e-mails encontrados em um danificado laptop, que supostamente era de Hunter Biden.

A matéria bombástica foi classificada pela grande mídia e pelo Partido Democrata como desinformação russa promovida por Donald Trump. Além disso, Twitter, Facebook, Instagram e outras redes sociais censuraram os perfis do “New York Post” e qualquer conteúdo relacionado à reportagem. A alegação na época era que se tratava de fake news, porque nenhuma perícia havia confirmado que os e-mails eram de fato de Hunter Biden.

Na mesma época, os senadores republicanos Chuck Grassley e Ron Johnson divulgaram um relatório produto de uma exaustiva investigação sobre os suspeitos negócios de Hunter Biden no exterior. O relatório recebeu o mesmo tratamento pela grande mídia, pelas empresas donas das redes sociais e pelo Partido Democrata.

No último dia 16, mais de um ano e meio depois, o jornal “The New York Times” reconheceu, em uma matéria sobre sonegação de impostos no entorno dos negócios internacionais do filho do presidente, que os e-mails do referido laptop eram de Hunter Biden. Logo em seguida, grandes redes de televisão e outros grandes jornais norte-americanos também confirmaram a autoria dos e-mails, depois de terem, em 2020, classificado como fake news.

Desde então, Trump e o Partido Republicano retomaram as acusações de corrupção contra a família Biden. Estrategistas republicanos e veículos de mídia de oposição ao governo Biden especulam que o reconhecimento da autoria dos e-mails esteja acontecendo como tentativa de controlar a cobertura de um possível grande escândalo de corrupção que estaria por acontecer, porque o FBI estaria ampliando o escopo de investigação da família Biden de evasão fiscal para tráfico de influência, lavagem de dinheiro e corrupção internacional.

Além disso, o senador Grassley, no dia 29 de março, tomou a tribuna do Senado e apresentou novas evidências de corrupção da família Biden. Ele mostrou evidências que apontam para propina e tráfico de influência entre uma empresa do setor energético patrocinada pelo Partido Comunista Chinês e o filho e o irmão do presidente Joe Biden, além de indícios de que este último estava ciente e se beneficiando dessas negociações.

Qual o possível impacto político desse escândalo? O primeiro é nas eleições de meio de mandato para as duas Casas do Congresso dos EUA. O escândalo pode ainda piorar a desgastada imagem do governo democrata e dar uma grande vitória aos republicanos, alcançando o controle do Legislativo federal (o que poderia tornar viável um processo de impeachment contra Biden). Segundo, prejudicar a imagem de Biden nacional e internacionalmente na condução da guerra na Ucrânia, uma vez que um dos negócios suspeitos de Hunter Biden diz respeito a uma empresa de energia na Ucrânia. Terceiro, corroborar a estratégia de Trump de acusação de manipulação dos resultados eleitorais de 2020, especialmente a acusação de manipulação por parte das grandes empresas de mídia e de tecnologia em censurar e blindar a imagem de Biden de escândalos e acusações como essa, manipulando a opinião pública.

No Brasil temos a experiência de como pequenas investigações de crimes fiscais podem se transformar em grandes escândalos de corrupção e conduzir a processos de impeachment, além de grandes prejuízos políticos a partidos e lideranças. Veremos se será o caso também nos EUA.