Todo problema tem solução. Umas fáceis outras não. Mas o que não podemos é ficar cozinhando o problema e não criar alternativas para solucioná-lo. E obviamente, agir em prol de implementá-las.

Não é de hoje que vemos notícias e depoimentos registrando a dificuldade da população quando vão usar o transporte coletivo em Belo Horizonte: ônibus cheios, horários sendo desrespeitados, linhas suprimidas e horários sem cobertura. Quem sofre é quem depende do transporte coletivo, diariamente, para ir para seu trabalho ou voltar para sua residência. Afinal, é nessas horas que as pessoas desistem da coletividade e tiram seus veículos da garagem ou preferem pegar um transporte por aplicativo.

Por outro lado, as multas aplicadas pelo poder público diante de tantos descumprimentos de contrato já se mostrou ser extremamente ineficiente. Nada é pago, tudo vai para a dívida ativa e acaba virando um “acordão” feito a portas fechadas, onde o dinheiro do trabalhador é tratado de forma usualmente irresponsável. Como você coloca mais dinheiro em um serviço que está sendo cada vez mais mal prestado? Não seria o caso de lutar pelo fim do atual contrato e o restabelecimento de uma nova lógica da prestação do serviço?

Soaria muito mais coerente se fosse assim. Mas mesmo após apresentação de uma nova estrutura para a Mobilidade de BH quanto ao serviço de transporte coletivo, feito na reunião do Comitê de Repactuação do Contrato e Revisão Tarifária em 2021, o que a Prefeitura fez: nada. O comitê foi encerrado unilateralmente e todo o conteúdo estudado foi encostado no fundo de uma gaveta. Solução tem! Porém é preciso trabalhar por ela. Ou se tiver uma proposta melhor, colocar na mesa.

A solução pode até passar por subsídio, mas não como querem, criando uma nova caixa preta. O subsídio somente pode ocorrer se realmente for constatado que o custo da operação do quilômetro rodado por cada veículo não for coberto pela arrecadação tarifária. A questão é que hoje o “lobo” é quem toma conta do “galinheiro”. Não há transparência! Apesar de que isso não é novidade para ninguém principalmente depois das revelações trazidas pela CPI da BHTrans. Mas não faz sentido bancar a diferença se não tiver ninguém com gestão para otimizar as linhas e horários, reduzindo o custo, e outro, separado e independente, cuidando da arrecadação de passagens – aliás, passagens que poderiam ter mais flexibilidade para atender a demanda do cidadão de melhor integração entre linhas e horários.

Outro aspecto importante a refletir é sobre subsídio versus meritocracia. Por que empresas prestadoras de serviço com grande incidência de multas e advertências, recorrentes descumprimentos de contrato, não atendimento de indicadores de qualidade de serviço e alto índice de reclamação de usuários serão beneficiadas com mais dinheiro público? O que garante que com essa “ajuda” financeira vão restabelecer seus serviços atendendo com rigor os padrões de qualidade mínimos exigidos para a atividade?

Mas o que todos sabemos é que não é enfiando mais dinheiro em um prestador de serviço, participante de cartel, que cada vez mais sucateia o sistema de transporte coletivo da cidade, é que vamos resolver. Dar dinheiro para as empresas de ônibus sem repactuar o contrato de prestação de serviço de transporte coletivo é incompetência ou apenas, bem provavelmente, mais um capítulo dessa relação mafiosa entre o público e o privado.