Sabem qual é o significado da palavra seguro? Não me refiro ao substantivo “seguro”, que o famoso dicionário Aurélio define como “Contrato aleatório no qual, mediante pagamento de uma taxa (prêmio de seguro), uma das partes se obriga a indenizar a outra por prejuízo eventual”. Refiro-me ao adjetivo, para o qual o Aurélio registra os seguintes sinônimos: estável, agarrado, firme, fixo, inabalável, sólido, cauteloso, confiante. E sabem quais são os antônimos? Inseguro, perigoso, imprudente, medroso, indeciso, precário, instável, variável, ambíguo, vago, incerto, perdulário, gastador. Não é difícil imaginar, portanto, por que as pessoas buscam, há tanto tempo, a proteção e o planejamento proporcionados pelo seguro.

No Brasil, a atividade seguradora teve início com a abertura dos portos ao comércio internacional, em 1808. A primeira sociedade de seguros a funcionar no país foi a "Companhia de Seguros Boa-Fé", em 24 de fevereiro daquele ano, tendo como objetivo operar no seguro marítimo. Nesse período, o setor era regulado pelas leis portuguesas. Somente em junho de 1850, com a promulgação do Código Comercial Brasileiro, é que o seguro marítimo foi regulado em todos os seus aspectos. Em 1855, o seguro de vida foi autorizado no Brasil. Até então, era proibido pelo Código Comercial quando feito juntamente com o seguro marítimo. Essa diferença de cinco anos diz muito sobre o desafio que enfrentamos ainda hoje, 165 anos depois. 

Sempre foi muito comum as pessoas associarem seguro de vida à ideia da morte. Durante um bom tempo, esse conceito até se justificou, considerando que não havia mesmo muitas opções de cobertura além da mais conhecida. Mas também já faz tempo que isso mudou. Hoje, o seguro de vida remete ao conceito mais abrangente do seguro de pessoas, que inclui invalidez, doenças graves, desemprego, educação, viagem, internação hospitalar e incapacidade temporária, entre outros segmentos.

Segundo dados da Fenaprevi, apesar de todas as dificuldades econômicas decorrentes da pandemia da Covid-19, o Seguro de Pessoas registrou crescimento de 4,4% de janeiro a novembro de 2020, com alta de 26,2% no segmento vida individual. O resultado talvez reflita uma maior preocupação com o futuro, mas estamos longe de atingir todo o potencial que o produto apresenta quando contemplado em seu conceito mais amplo. 

Atualmente, no Brasil, somente 19% da população conta com seguro de vida, considerando todas as modalidades, contra 30% de Seguro Auto, por exemplo. Estamos bem abaixo da média mundial, que é de 32%. Com relação ao PIB, a participação do seguro de vida é de apenas 0,6% no Brasil. Em Hong Kong, que lidera o ranking mundial nesse tipo de comparação, a penetração é de 5%, segundo dados da Swiss Re.

É compreensível que elementos que fazem parte do nosso cotidiano, como o automóvel ou a residência, acabem atraindo mais a nossa atenção quando pensamos em contratar um seguro. Afinal, trata-se de uma proteção que vamos - ou, pelo menos, podemos - utilizar várias vezes durante a vida. E quantas vezes usamos um seguro de vida, na sua forma mais estrita? Por essa ótica, a contratação do produto seria um gesto altruísta, de desprendimento.     

Mas há também um aspecto menos emocional e mais objetivo a ser levado em conta. Mesmo em seu sentido mais estrito, o seguro de vida pode ser visto como um instrumento que possibilita a proteção do patrimônio e a preservação da estabilidade financeira, ao evitar uma eventual descapitalização súbita e garantir a qualidade de vida familiar. Em sua dimensão mais abrangente, pode ser extremamente útil em situações concretas do dia a dia, como uma perda inesperada de emprego ou o custeio de uma internação hospitalar.

Aqui, chegamos a duas conclusões. A primeira diz respeito à ideia de futuro. Embora seja algo menos tangível do que o nosso carro ou a nossa casa, o futuro é real e não pode ser percebido somente pela nossa perspectiva. O futuro não é apenas o nosso futuro. A segunda conclusão é a de que o seguro de vida pode, sim, ser muito necessário em todos os ciclos da nossa vida, e não apenas no fim dela.

Alguns dados referentes a 2019 dão a medida dessa importância. Naquele ano, o país registrou 1,35 milhão de óbitos, metade dos quais por doenças graves, como as cardiovasculares (26,8% do total), câncer (17,4%) e diabetes (6,1%). Houve mais de 350 mil indenizações por acidentes de trânsito. O desemprego atingiu aproximadamente 12 milhões de brasileiros, e a inadimplência, 64 milhões. Na área educacional, cerca de 20% dos alunos do ensino básico (infantil, médio e fundamental) e nada menos do que 75% dos universitários estavam matriculados na rede privada. E, no segmento de viagens, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), 120 milhões de passageiros, dos quais 95 milhões no mercado doméstico, embarcaram em 945 mil voos.

Para cada uma dessas situações, existe um seguro de vida específico, capaz de endereçar riscos e imprevistos. Nosso desafio, traduzido em números, é levar o produto ao imenso contingente da população brasileira que ainda não desfruta dessa proteção, contribuindo para elevar sua qualidade de vida.