Núncio Antônio Araújo Sol

Os desafios para a formação dos futuros médicos

Mudança na mentalidade e na abordagem de profissionais de saúde

Por Núncio Antônio Araújo Sol
Publicado em 17 de abril de 2024 | 07:00
 
 
Núncio Antônio Araújo Sol Os desafios para a formação dos futuros médicosjpg Foto: Ilustração/O Tempo

A formação de jovens profissionais de medicina é um processo complexo, que enfrenta diversos desafios para uma atuação eficaz. No contexto atual, a busca por uma saúde universal e equitativa se apresenta como um imperativo moral e social, exigindo uma abordagem multifacetada na formação dos futuros médicos.

São muitos os desafios enfrentados nesse processo, tendo como pontos centrais a saúde universal, a equidade, a Atenção Primária à Saúde (APS), a valorização do Sistema Único de Saúde (SUS) e o atendimento humanizado.

A saúde universal, conceituada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o acesso de todos os indivíduos aos serviços de saúde necessários, é um objetivo que demanda, na mesma proporção, a disponibilidade de serviços e a garantia de que eles sejam acessíveis e de qualidade. Alcançar esses objetivos requer mais do que a simples expansão dos serviços. Exige mudanças na mentalidade e na abordagem dos profissionais de saúde, ou seja, a formação de jovens médicos deve enfatizar a importância da igualdade no acesso aos serviços e a compreensão das necessidades das populações marginalizadas.

Nesse contexto, a Atenção Primária à Saúde desempenha um papel fundamental na promoção da saúde universal e na redução das desigualdades. É na APS que se estabelece o primeiro contato entre os pacientes e o Sistema Único de Saúde. E é por meio da atenção básica que se dá a coordenação dos cuidados, prevenção de doenças, promoção da saúde e tratamento de doenças crônicas. Por isso, os jovens médicos devem ser capacitados a compreender o papel crucial da APS e a desenvolver habilidades de comunicação, trabalho em equipe e resolução de problemas, fundamentais para uma prática eficaz nesse segmento.

O Sistema Único de Saúde, que é um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo, desempenha um papel fundamental na garantia do direito à saúde no Brasil. Nesse sentido, evidenciamos que a formação de jovens profissionais da medicina deve incluir uma reflexão crítica sobre o papel do SUS na promoção da saúde universal e na redução das desigualdades. Também é essencial o desenvolvimento de habilidades para trabalhar dentro do sistema, maximizando seus recursos e oferecendo cuidados de qualidade a todos os cidadãos. Isso envolve o reconhecimento da importância do SUS como pilar da saúde pública no Brasil e o compromisso com sua melhoria contínua e fortalecimento do sistema, garantindo assim que todos os pacientes, independentemente de sua condição socioeconômica, tenham acesso a serviços de saúde de qualidade.

Princípio fundamental da prática médica, o atendimento humanizado reconhece a importância do respeito, empatia e compaixão no cuidado dos pacientes. Os jovens médicos devem ser incentivados a desenvolver uma abordagem centrada no paciente, que leve em consideração não apenas a dimensão biológica da doença, mas também as dimensões psicossociais. Isso requer uma formação que enfatize a comunicação eficaz, o trabalho em equipe e a capacidade de lidar com situações complexas e emocionalmente desafiadoras, proporcionando tratamentos de saúde mais dignos e compassivos para todas as pessoas que buscam cuidados médicos.

Em suma, a formação de jovens profissionais da medicina enfrenta uma série de obstáculos na busca por uma saúde universal e equitativa. Ao investirmos na formação de profissionais comprometidos com a promoção da equidade na saúde, o fortalecimento da atenção primária, a valorização do Sistema Único de Saúde e a promoção de um atendimento com foco nas pessoas, e não nas doenças, moldamos o futuro da medicina e contribuímos para uma sociedade mais saudável e solidária. Somente assim será possível formar médicos capazes de enfrentar os desafios do século XXI e colaborar para a construção de um sistema de saúde mais justo e inclusivo.

Núncio Antônio Araújo Sol
Coordenador do curso de medicina da Faculdade da Saúde e Ecologia Humana (Faseh)