Opinião

Por que batem tanto nele?

Centenário do professor Paulo Freire

Por Jacqueline Caixeta
Publicado em 15 de outubro de 2021 | 03:00
 
 

Em 19 de setembro, comemoramos o centenário de Paulo Freire. Esperei a poeira abaixar para escrever e, aproveitando outubro, que é o Mês das Crianças e dos Professores, vou incomodar vocês com minhas reflexões “freireanas”.

Paulo Freire é reconhecido e homenageado no mundo inteiro, e, no Brasil de 2021, recebeu muitas homenagens e muitas críticas. Como boa freireana, acho críticas algo perfeito. Elas nos tiram do lugar-comum e nos movimentam em todos os sentidos. Há críticas construtivas, e alguns dizem que há as destrutivas. Discordo; percebo que todas elas nos ajudam muito na construção de pensamentos e nos proporcionam análises profundas, acordando em nós nosso senso crítico e capacidade de reflexão. Então, já começo agradecendo todas as críticas atribuídas ao meu grande ídolo: Paulo Freire!

Agora é saber direcionar e refletir o motivo pelo qual tais críticas estão tão fervorosas. Bem, na maioria das leituras que fiz, percebi, claramente, que quem faz críticas negativas em relação a Paulo Freire nunca leu de maneira “inteligente” sobre o educador e todo o seu trabalho. Vivemos tempos sombrios em que as “mentiras inventadas” tomam tanta força que correm o risco de virarem “verdades produzidas”, então, convido que estudem Paulo Freire, mas não pelos desconfiáveis meios de comunicação, e sim por materiais acadêmicos produzido por instituições e pessoas confiáveis.

Paulo Freire está sendo massacrado porque ele traz um diálogo constante da educação com a sociedade em toda sua práxis, a relação dialética entre alunos e professores, o mundo para dentro da sala de aula, como ele é, sem disfarces, para ser conhecido, discutido, debatido, provocando reflexões o tempo todo. Uma educação libertadora no sentido mais amplo da palavra, sem medos e receios, em busca de uma transformação social, em busca de que se faça, de fato, cumprir a constituição brasileira quando ela diz que educação é para todos.

Como presente aos professores no seu mês, convido os que nunca leram Paulo Freire a conhecerem um pouco de suas obras. Às crianças, convido aos pais que busquem saber o quanto Paulo Freire combina com a educação que eles sonham, onde o filho terá autonomia, poderá trazer para sala de aula seus conhecimentos prévios e partilhar, como num lindo ato de comunhão, seus saberes com os colegas e professores, construindo e produzindo novos saberes.

Meu espaço aqui é muito pequeno pra falar de Paulo Freire, mas acho que deixo aqui uma inquietude em buscar mais informações. Antes de julgar e condenar, vamos conhecer. Antes de “bater” em um educador como Paulo Freire, saibam que tudo o que ele sempre sonhou foi uma educação transformadora, que pudesse, de fato, contribuir com uma sociedade mais justa, fraterna e humana.

A educação precisa de coragem, ousadia e sonhos. Talvez estejam batendo tanto em Paulo Freire porque temem que o conhecimento seja tão democrático que possibilite que as pessoas sejam bem mais do que apenas bons estudantes, reprodutores de sistemas falidos e enfadonhos, que limitam o pensamento crítico e reflexivo, afinal, movimentar marionetes é bem mais fácil do que lidar com pessoas pensantes.