Opinião

Por que é tão caro o preço da passagem de ônibus?

Subsídios, urbanismo e infraestrutura

Por Paulo César Alves Rocha
Publicado em 26 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 

Ano novo, mesmos problemas. São diversas as notícias sobre outra velha e barulhenta história no Brasil – o reajuste das passagens dos transportes urbanos de passageiros – este ano agravada pela inflação e principalmente pela alta nos preços dos combustíveis. Historicamente tínhamos de bons serviços prestados até a década de 50 por bondes, trens e barcas. Ônibus eram raríssimos, mesmos nas cidades maiores. Hoje, com raras exceções, temos um nível de serviço caro e péssimo, geralmente implantados sem um planejamento acurado, que leva à não regularidade dos intervalos e tempos das viagens, à superlotação e à demora das viagens em até duas/três horas para ida e igual tempo para volta.

O valor das passagens foi subindo, mesmo com subsídios pagos por alguns municípios e Estados, pesando pouco no bolso dos trabalhadores enquanto a maioria era CTI, em que o custo era pago em maior parte pelos empregadores via vale-transporte, incorporando-se, assim, ao chamado custo Brasil. Atualmente, a situação mudou muito com o avento da pejotização e do empreendedorismo quer formal ou informal, passando os custos das passagens a pesar no bolso dos brasileiros.

Não houve um planejamento adequado dos transportes urbanos, abandonando-se os trens e as barcas para adotar o modal rodoviário, com tímidos investimentos em sistemas metropolitanos sobre trilhos. A adoção dos chamados BRTs se sustentam bem enquanto a demanda é compatível com sua realidade, mesmo os primeiros implantados já sofrem com a sobrecarga de passageiros e alguns já foram construídos quando a demanda seria de outro tipo que não eles.

Ao mesmo tempo, a malha ferroviária urbana, com exceção de São Paulo, sofre abandono, criando-se situações como a do Rio de Janeiro em que a malha é invadida para moradia e por criminosos. Também em diversos pontos do Brasil, malhas ferroviárias antigas que poderiam ser utilizadas, são abandonadas ou se transformam em vias rodoviárias.

A situação dos transportes urbanos também pode melhorar com a redução da demanda em que áreas das cidades se tornassem sustentáveis, convivendo moradias para todas as classes sociais (não confundir com os condomínios de luxo que estão sendo construídos, mas que dependerão de serviços prestados por não moradores) com comércio, serviços e indústrias.

Urgente é a necessidade de investimentos planejados em áreas sustentáveis e nos transportes urbanos, priorizando-se barcas porque sua infraestrutura é grátis, veículos sobre trilhos de acordo com a demanda e só se complementando com veículos rodoviários para trechos menores ou nos casos de impossibilidade de outras soluções, não se esquecendo de alternativas como bicicletas.

Também é importante que se ordenem os subsídios a serem dados ao transporte de passageiros urbanos, porque esta é a realidade brasileira, tem que haver subsídio, lembrando que eles são um serviço público e, nesta qualidade, devem atender em horários corretos com pontualidade e com um nível de serviço que implique em não haver superlotação dos veículos.