O termo “retrofit” tem sido amplamente divulgado nos últimos meses, principalmente, no contexto urbano, com o lançamento de programas de adensamento e renovação das áreas centrais das principais capitais do país, como “O Centro de Todo Mundo”, em Belo Horizonte, o “Reviver Rio”, no Rio de Janeiro, e o “Programa Requalifica Centro”, em São Paulo.

Tardiamente, o Brasil vem reconhecendo que o modelo de expansão das cidades para as periferias gera um enorme custo tanto para os cofres públicos que precisam levar infraestrutura para estas áreas quanto para o cidadão que se vê cansado e desmotivado com grandes deslocamentos, transporte coletivo ruim, ausência de espaços públicos, insegurança, entre tantos outros problemas das nossas metrópoles.

A renovação e ocupação de edifícios inteiros nas áreas centrais traz inúmeros benefícios: impacta na melhoria da segurança e do trânsito, é mais econômico que a construção convencional, sendo uma estratégia sustentável que minimiza impactos no meio ambiente, ativa a economia com oferta de comércios e serviços e mantém a memória do espaço viva, sendo um agente para a promoção do patrimônio cultural.

Retrofitar um edifício inteiro, é normalmente tarefa para construtoras e empreendedores da construção civil. Mas saiba que o retrofit não se limita somente ao contexto urbano. A atualização de um imóvel histórico permitindo novos usos também é um processo interessante para apartamentos, lojas e casas. E é assim que o cidadão comum pode ter acesso aos benefícios desta ferramenta arquitetônica. Com a compra de imóveis antigos isolados para moradia ou investimento.

A aquisição de imóveis antigos para retrofit é um grande negócio em vários aspectos. A começar pela localização, é possível encontrar apartamentos interessantes em zonas centrais e altamente valorizadas por menos da metade do valor do m² na região. Por exemplo, no tradicional bairro Sion, em Belo Horizonte, em uma mesma quadra encontramos imóveis antigos com o custo de venda de R$ 4.000,00 o m² enquanto um lançamento chega a R$ 17.000,00 m². Os moradores vão desfrutar dos mesmos benefícios da localidade.

Outro fator significativo é a qualidade de projeto. Alguns imóveis antigos possuem pé direito alto, cômodos amplos, iluminação e ventilação abundantes. Tem ainda o diferencial estético, estilos arquitetônicos reconhecidos e, muitas vezes, assinatura de arquitetos renomados, um verdadeiro luxo!

Com uma obra relativamente pequena e rápida, o imóvel está apto ao uso contemporâneo e já se posiciona no mercado imobiliário em outro patamar.

E por que com tantos diferenciais esses imóveis custam menos e estão à margem do setor imobiliário? Alguns pontos podem explicar: o desgaste natural destes imóveis impede as pessoas e até mesmos os corretores de visualizarem seu potencial de transformação; imóveis tombados geram insegurança devido às regulamentações, há muito desconhecimento e mitos neste tema.

Além disso, o modelo de desenvolvimento econômico tem sido pautado pelo aumento do consumo, valoriza-se o novo, sem preocupação com o esgotamento, escassez de recursos. O retrofit é interessante não só pela perspectiva econômica, mas também pelo viés ambiental.

O olhar atento aos imóveis com potencial de retrofit, seguidos de um estudo de viabilidade técnica e econômica, projeto arquitetônico de adaptação, obra planejada atualiza o imóvel para o uso contemporâneo, pode ser muito lucrativo.

(*) Ana Carolina Pereira Vaz é arquiteta e urbanista, consultora em Patrimônio Cultural na Temporis