CADU DONÉ

Laura Medioli e outros salvadores da literatura

A população brasileira, a cada dia lê menos, seduzida por smartphones

Por Cadu Doné
Publicado em 20 de outubro de 2021 | 03:00
 
 

A literatura agoniza. Pesquisas revelam números desanimadores. A quantidade de leitores no nosso país beira o desconsiderável. No fundo, a realidade é pior do que a tragédia anunciada nestes estudos divulgados. As pessoas mentem nestes levantamentos.

Querem parecer mais inteligentes. O homem médio não lê nenhum livro por ano. Mas inventa que leu duas obras. Moro, em tese um homem culto, não conseguiu mencionar qual o último título que havia lido. André Barcinski, autor de várias obras, quase todas esgotadas, algumas transformadas em séries de TV, em seu Twitter – recomendo não só suas redes sociais, como seu novo blog –, escreve mensagens espetaculares, escancarando a realidade tupiniquim: escrever livros, num exercício em que ponderamos acerca de custo-benefício, racionalmente, não faz sentido. O retorno financeiro não é pequeno. É zero.

Nem os vorazes 

Ouço com assiduidade o Podcast “Making Sense with Sam Harris”, projeto do filósofo, neurocientista, e autor de best-sellers. Um convidado frequente é Ricky Gervais. Em um episódio recente da corajosa empreitada “radiofônica’, um dos temas discutidos foi a morte da literatura e os efeitos no cérebro do vício mundial em smartphones.

Harris reconheceu que passou a ler menos. Estamos falando de um sujeito que, pela bagagem, pelo que produz, desnuda que é um leitor voraz; nível máximo de dedicação aos livros. Se até os melhores andam titubeando, temos mais uma razão para o pessimismo. Eu também passei a ler menos textos longos. Me desespera. Culpa.

Autocrítica

Quase todas as obras que mudaram minha vida são gigantes. “Em busca do tempo perdido”, de Proust; “Parerga e Paralipomena”, de Schopenhauer; “O Idiota”, de Dostoievski; “Anna Karenina”, de Tólstoi; “Graça Infinita’’, de David Foster Wallace. Hoje tenho dificuldade – venço estas batalhas menores – para terminar livros mais curtos de outros dos meus autores preferidos. A energia que despendi para ler o curto – e genial – “Serotonina”, de Michel Houellebecq. Para reler “Desonra”, de Coetzee.

Olimpíada

Queria terminar o “O deus das avencas”, de Daniel Galera, antes da Olímpiada. Uma das ótimas novelas do escritor gaúcho chama-se “Tóquio”, e meus raros leitores sabem que não perco um gancho para misturar cultura com esporte.

Desejava resenhar o livro durante os jogos do Japão. Acabei nos últimos dias. Não faturei medalha. O próximo da fila é “O drible da vaca”, de Mário Prata, que, acredito, pode chegar ao nível de “O drible”, de Sérgio Rodrigues – ou de “O segundo tempo”, de Michel Laub.

Fliti

Na Fliti, Feira Literária de Tiradentes, Laura Medioli abriu a programação do segundo dia debatendo sobre seu livro “Só de Bicho” – imperdível para quem, como eu, ama os animais. Nos bastidores, sabemos que a colunista de “O  Tempo” atuou de forma decisiva; para divulgar, organizar. Nosso jornal, na última sexta, dedicou mais de 16 páginas à literatura. Heróis como Afonso Borges, que mantém o “Sempre um Papo” por 35 anos, receberam a reverência que merecem.

Academia

No meu mestrado em filosofia li muitas obras; mas o estudo é tão fragmentado que prevalece a sensação de que não lemos. Foco...