O melhor time do Brasil
Não dá para ter demagogia. O Atlético, depois de um jogo espetacular, está na final. Com relação ao estilo de Vojvoda, uma mistura de sentimentos. Bom para o espetáculo, frequentemente até para o resultado, mas uma pulga atrás da orelha não deixa de permanecer: exala uma exposição excessiva, quase uma coragem que se transforma em loucura; algo que, diante de um escrete tão superior quanto o do Galo, chega a parecer irresponsabilidade. Para completar o emaranhado de sensações: durante boa parte do primeiro tempo, antes de a surra mineira se consolidar, o tricolor do Ceará assustava. Performance convincente. Só que, como diz meu irmão Lélio Gustavo, chegou uma hora que “não teve jeito”; o alvinegro passou o trator. Lembrou o show em cima do River. Excelência transcendental. Arana, o melhor lateral do Brasil, começou o baile com um golaço.
Gols incomparáveis
O terceiro gol da exibição de gala foi um caso à parte. Há, grosso modo, no futebol, dois tipos de pinturas: as marcadas pelo gênio de um artista da estirpe de um Rafael, um Ticiano, que, num grau elevadíssimo, corresponderia à arrancada inigualável de Maradona em 86 no mesmo dia da “mão de Deus”, ao começo do reinado de Messi em 2007 enfileirando as peças do Getafe como se ali não estivesse ninguém, ou à apoteose do fenômeno que completou recentemente 25 anos – um foguete que os puxões dos defensores do Compostela não foram capazes de parar; raridades pelas quais o Louvre trocaria por um Michelangelo; são a coisa em si de Kant.
Como em 70
A obra-prima arrematada por Hulk após trama que passou por um drible espetacular do melhor em campo, Keno, por cruzamento de Zaracho, nos remete aos coletivos de mentes privilegiadas. A geração Beat em que Allen Ginsberg dialogava com Jack Kerouac incessantemente; o prédio no qual Charlie Stenn, da matadora Shame, morou por um bom tempo em Londres – entrevista no Guardian expôs esta realidade com a precisão da esquerda de um Federer no auge. Tento de Carlos Alberto Torres embasbacando a Itália.
E o Flamengo?
Sem o bairrismo comum que, entre outras coisas, gera a insignificância mineira no debate público, a classificação antecipada abocanhada na Pampulha, somada ao empate dentro da alçada da normalidade conquistado pelo Flamengo, posiciona o Galo à frente na luta pelo posto de melhor esquadrão do país? Em termos. O escrete de Cuca é maravilhoso. Ainda assim, penso que os parças de Renato, em termos de talento puro, em teoria, no que tange ao potencial, permanecem na liderança deste ranking.
Vantagem mineira
Se o rubro-negro tem mais craques, a longevidade de Cuca pode trazer vantagem na esfera coletiva. A orquestra do Atlético está mais ensaiada, mais afinada. Ainda que Cuca não seja um Karajan – Renato também não regeria a Filarmônica de Berlim –, a organicidade natural – e que não raramente estraga – dos casamentos propicia uma intimidade imensurável – também... Uma coisa é o potencial. Outra é a prática. O Atlético, hoje, é representação, fenômeno...
Keno
A recuperação de Keno é daquelas notícias subestimadas. Craque que tem tudo para se juntar ao nível de Arana, Hulk, Nacho...