Em 2020 estive junto com outros colegas de profissão concentrado na definição do cenário eleitoral dos Estados Unidos. Naquela ocasião, principalmente em razão das políticas de enfrentamento da pandemia, havia muitos críticos do então presidente Donald Trump. O processo de degradação do nome do ex-presidente foi se tornando algo profundo ao longo do tempo e culminou em sua derrota para o candidato democrata Joe Biden, que dividiu espaço em sua chapa com a vice-presidente Kamala Harris.

Estamos, hoje, a menos de um ano do próximo pleito à Presidência dos Estados Unidos. Críticas de muitos setores têm sido direcionadas ao atual governante. Muitas das promessas anunciadas em campanha não lograram êxito durante o mandato e hoje são linha de frente de um movimento político que deverá atribuir a Trump a tarefa de vencer o possível candidato Biden em uma reedição de 2020.

Do ponto de vista interno, o atual presidente enfrenta grande resistência no Congresso sem alcançar uma maioria garantida. Grande parte dos projetos presidenciais só foi aceita pelo Legislativo após um longo caminho de negociações. Especialmente após as eleições Mid-term, que mudaram a configuração política do país, as dificuldades se impuseram de maneira mais clara ao presidente Biden.

A economia ainda não se recuperou totalmente das dificuldades da pandemia, a moeda americana se desvalorizou, a briga pela diminuição das taxas de juros é uma constante preocupação do governo, o aumento do desemprego e a queda no poder de compra do cidadão comum pesam na conta daquele que tem governado os americanos nos últimos anos. A dificuldade da implementação de uma pauta mais progressista colocou grupos apoiadores de Biden em um momento de questionamento sobre as reais intenções do mandatário. Grupos que antes o apoiavam hoje sentem-se desmotivados a repetir seu voto e acabar insistindo em um caminho equivocado para seu país.

Pesquisas recentemente apresentadas por institutos de pesquisa e por importantes periódicos americanos indicam que, a menos de 12 meses da eleição, Trump conseguiu alcançar uma vantagem potencial sobre o seu provável adversário. A idade do presidente também conta: há quem considere que, diante de situações constrangedoras vivenciadas pelo chefe do Poder Executivo dos Estados Unidos, ele não deveria se candidatar no momento em que alcança a casa dos 80 anos.

A retirada pouco exitosa das forças militares americanas no Afeganistão, o apoio substancial dos Estados Unidos à Ucrânia e o posicionamento de Biden em defesa de Israel serão tópicos importantes, que farão diferença em sua corrida rumo à reeleição. A falta de protagonismo da vice-presidente parece ter enterrado qualquer possibilidade de sucessão natural do presidente por sua correligionária. Ainda assim, a última pesquisa divulgada pelo “The New York Times” indica que os americanos prefeririam que os democratas lançassem outro nome que não o de Biden.

Ainda há muito o que acontecer. Sobretudo a situação jurídica que envolve o ex-presidente Trump pode ser fator de impacto na disputa eleitoral. Ainda que não seja momento de apresentar grandes certezas sobre o que acontecerá no ano que vem, chama-nos a atenção a reviravolta vivida até agora. Quem saiu da Casa Branca com dificuldades de aceitar o resultado das urnas pode ser o próximo presidente americano. A situação da economia americana nos próximos meses será um dos fatores que mais interferirão na escolha de um novo governo. Até o momento, o que se depreende das previsões é que o presidente Biden precisa repensar os seus posicionamentos se quiser continuar vivendo na casa mais requisitada de Washington D.C.

CHRISTOPHER MENDONÇA é doutor em ciência política e professor de relações internacionais do Ibmec-BH

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