Criando Juntos

A infância dos sonhos

Na semana em que se comemora o Dia das Crianças, proponho uma reflexão sobre qual infância você deseja para seu filho

Por Luciene Câmara
Publicado em 11 de outubro de 2019 | 22:17
 
 
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Se eu pudesse escolher a infância dos sonhos para meus filhos, queria que eles tivessem uma infância igual à minha. Nunca fui daquelas crianças que tinham tudo. Telefone fixo, que era luxo na época, demorou a chegar lá em casa. Videogame nunca tive. DVD? Só no fim da adolescência. Festa de aniversário? Bolo feito pela mãe com beijo, abraço e um presente singelo. A gente realmente não era rico, mas as escolhas acima tinham muito mais a ver com estilo de vida do que com dinheiro. 

É claro que fiquei querendo muitas vezes o videogame do vizinho ou um DVD para ver todos os filmes que eu gostava. Mas não percebo em mim nenhum trauma por causa disso. Pelo contrário, acho que aprendi desde cedo a não ficar pedindo muito, a ser feliz com pouco e a ter um certo desapego. E esses são alguns dos valores e hábitos que quero cultivar com meus filhos - embora às vezes seja tão difícil (depois falamos disso). 

Mas o que prevalece quando paro e penso na minha infância, além de uma família acolhedora como base, é a amizade. Fui uma criança de brincar muito na rua. Sou do tempo em que a gente ficava até tarde sentada na calçada, e não tinha o menor perigo. A vizinhança havia resolvido ter filho tudo na mesma época, já que todas as crianças tinham praticamente a mesma idade. As ruas do bairro ainda não eram asfaltadas, o que era ruim do ponto de vista imobiliário, mas maravilhoso para quem adorava fazer guerrinha com aquele monte de terra.

Não havia praça ou parque com escorregador, pula-pula, essas coisas que a gente procura tanto hoje em dia. Mas tinha um monte de árvore bem grande, com galhos que pareciam escadas e davam acesso a espaçonaves e transatlânticos, o que nossa imaginação mandasse. E nós éramos poderosas nisso de realidade ‘virtual’, melhor que qualquer efeito 3D ou 4D. 

Brincamos muito de boneca também, até à adolescência, e dançamos muito “ilariê”. Mas a vida não era só fantasia, tinha trabalho sério. A gente fazia peças de teatro, desfile, festa junina, eventos de parar a rua e angariar dinheiro para outros projetos. 

Os adultos ajudavam, mas bem como coadjuvantes. Eles não precisavam marcar os encontros por nós e estar por trás dando as coordenadas. Quem planejava e realizava tudo mesmo éramos nós,  crianças/adolescentes entre seus 10 e 14 anos. E assim a gente seguiu pela adolescência, ouvindo muito “Eduardo e Mônica” e organizando nossas próprias festas. Uma infância e uma adolescência que, sem dúvida, nos moldaram para a vida adulta e nos fizeram mais fortes. 

Nostalgia à parte, não quero dizer que quem nasceu nas décadas de 80 e 90 era mais feliz do quem nasce nos tempos de hoje, de internet, tablet, smartphones. Os rolezinhos estão aí para mostrar que não. Mas os tempos são outros, e tem coisas do passado que realmente se perderam por conta de tanta rede social virtual e pouco contato físico, presencial. 

Neste Dia das Crianças, o que desejo para meus pequenos é que eles sejam tão felizes quanto eu fui, que tenham amigos verdadeiros, que vivam uma infância bem genuína e construam bons valores. 

Feliz Dia das Crianças para todos!!!

* Jornalista, redatora dos jornais O TEMPO e Super Notícia, mãe do João e dos gêmeos Raul e Gael e autora do perfil @joaoeosgemeos