Criando Juntos

O que dizer para nossos filhos?

A história em quadrinhos (HQ) dos Vingadores com o beijo gay foi barrada na Bienal do Rio, mas você também barraria o livro na sua casa? Precisamos falar sobre o assunto.

Por Luciene Câmara
Publicado em 11 de setembro de 2019 | 17:53
 
 
WILTON JUNIOR/ESTADÃO CONTEÚDO

O que eu diria para o meu filho se ele visse a HQ dos Vingadores com o beijo gay? A polêmica da semana passada me fez parar para pensar. Eu não tinha uma resposta pronta para isso. A partir de qual idade eles devem ver cenas de beijo (seja gay ou não)? Quando devemos falar sobre homossexualidade com as crianças? Não sou especialista, mas sou mãe e preciso amadurecer esses pensamentos para quando a hora de falar chegar.

A resposta logo me pareceu simples. Devemos agir com as mesmas pureza e naturalidade das crianças. Se meu filho vir a HQ dos Vingadores com o beijo gay, pretendo dizer: “Que lindo, meu filho. Duas pessoas se beijando com respeito, com amor”. E amor explica tudo, né? Não tem censura, não tem distinção de sexo, não tem idade para falar de amor. 

Penso que as crianças, inclusive, nem agiriam com estranhamento ao virem a foto da HQ se já não tivessem sido influenciadas pelo meio. Para elas, talvez, seria só mais um beijo, como o que elas veem no desenho da Ladybug ou na novela que os pais assistem à noite ou até mesmo na rua. As pessoas se beijam por aí, e isso é diferente de deixar seu filho ver precocemente uma cena de sexo, uma pornografia.

Mas se meu filho por acaso achar estranho e perguntar: “Mas, mãe, são dois meninos?” Eu responderia tranquilamente: “Sim, meu filho, são dois meninos, e não tem nada de errado nisso, desde que os dois queiram, desde que haja consentimento”. É como diz aquela música maravilhosa do Milton Nascimento (“Paula e Bebeto”): “Qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor valerá”. Todas as pessoas merecem amor e carinho.

O que eu escondo e me deixaria muito constrangida em ter que explicar para meu filho é se ele visse uma cena de violência, como as que estão aos montes por aí. Uma foto de uma mulher vítima de feminicídio ou de um homem que matou outro homem seja lá por qual ‘motivo’. Isso, sim, é difícil demais de ver, de aceitar, de entender. Isso, sim, precisa mudar. 

Que mais cenas de amor possam circular!!!  

* Jornalista, redatora dos jornais O TEMPO e Super Notícia, mãe do João e dos gêmeos Raul e Gael e autora do perfil @joaoeosgemeos