Dra. Meira Souza

Quem constrói a sua história?

Ser o protagonista de sua saúde é entender que você é o seu vilão e seu herói

Por Da Redação
Publicado em 20 de novembro de 2021 | 03:00
 
 

Muitas vezes nossa racionalidade nos faz esquecer de que em essência somos animais, e como todos eles, as vezes chegar perto demais por de ser perigoso.

Demorei muito tempo para entender isso, no entanto, várias vezes ainda me pego caindo nesta mesma armadilha.

Sempre que pergunto ao meu paciente os motivos de ele ter adoecido corro o risco de não o ver mais, muitas vezes esta pergunta toca em alguma ferida profunda e quem se dói diversas vezes corre ou “morde”.

Se implicar como responsável por algo de ruim que te ocorre é no mínimo desconfortável e eu entendo isso, culpar uma força externa pelos males que nos afetam parece de certa forma um tipo de cuidado.

“Sim, este mal me ocorreu, mas não fui eu que me fiz sofrer.”

A dor além de tudo é impaciente, os anos de adoecimento que levaram a determinado quadro, precisam ser resolvidos em dias, quiçá horas.

Muitos pacientes se aproximam de mim e verbalizam com clareza: “doutora, não quero entender nada, só quero que essa dor passe, por favor me dê um remédio que faça ela ir embora.”

Me sensibilizo muito com estas histórias e por vezes até choro.

No entanto, não é dessa maneira que o corpo funciona, o paciente que chega a mim com quadro de dor extrema, em quase 100% das vezes já chega em meu consultório com doses altas de medicação, quanto mais forte for o remédio que eu der para ele, mais seu corpo necessitará e ele não estará isento de nenhum efeito colateral.

A medicina não tem remédio para todas as dores, meu trabalho é regido sobre essa máxima. A maior parte de qualquer saúde é construída na rotina e não no consultório.

O mundo que desejo é um no qual a saúde seja mais democrática, não uma ferramenta de lucro, esperamos a doença acontecer, pois é muito mais lucrativo tratá-la que preveni-la.

Gostaria de observar uma realidade diferente das clínicas de dor.

Remédios deveriam ser ferramentas para construir uma saúde melhor.

Deveriam sim, entrar na vida de pacientes, mas nunca sem previsão de saída.

Ser o protagonista de sua saúde é entender que você é o seu vilão e seu herói em todos os momentos, mesmo que precise de ajuda ou orientação de algum “mestre” só você é capaz de construir sua própria jornada de uma vida digna e feliz.