À medida que evoluímos, construímos adoecimentos próprios destes momentos. Houve um tempo sem saneamento básico, com água não tratada e falta de rede de esgoto adequada, em que doenças infectocontagiosas, como gastroenterites, inclusive, eram responsáveis por uma alta mortalidade, principalmente de crianças e jovens.
Vencido esse grande desafio, e pela descoberta de antibióticos, a sociedade deu um grande salto na expectativa de vida. Porém, todo esse processo foi possível por causa do avanço tecnológico, que trouxe outras questões perigosas para a nossa saúde. E, para continuarmos avançando na melhoria da qualidade de vida, eles precisam ser superados.
Hoje, em torno de 75% das mortes ocorrem por causa das doenças crônicas não transmissíveis, e não de doenças infecciosas, como ocorreu tempos atrás. Alguns fatores aumentam a ocorrência dessas doenças, como o uso do tabaco, a inatividade física, o uso abusivo do álcool, as dietas pouco saudáveis e a poluição do ar. Esses fatores estão na base de adoecimentos como diabetes, câncer, doenças cardiovasculares e são responsáveis pelo aumento de problemas mentais, que, principalmente em adolescentes, aumentam o risco de suicídio.
Pensando em saúde, é urgente investir na redução desses fatores. Entre eles, a inatividade física parece-me ser um problema que necessita muito mais de mudança de comportamento que investimento financeiro. Nos meus livros, dou grande ênfase à importância da atividade física para evitar problemas crônicos, principalmente dores.
Defendo a prática da atividade “orgânica”, um estilo de vida mais ativo; subir escadas em vez de usar elevadores; dançar; levar o cachorro para passear; sair para fazer pequenas compras a pé... Eu tento fazer o que falo e realmente evito o carro sempre que possível.
Nessa conduta, fiz uma observação preocupante sobre a cidade de Belo Horizonte.
Uma vez por semana, eu subo a rua da Bahia a pé. Nessa caminhada, pude perceber que andar por BH pode ser mais desafiador do que agradável. Em alguns cruzamentos não existe nenhum momento em que a preferência é do pedestre, exigindo que ele se arrisque para evitar os carros. Passei a observar com mais atenção e percebi várias situações semelhantes também em Nova Lima, onde vejo pedestres se arriscando entre os carros.
O uso excessivo de carros está na base da falta de atividade e também no aumento da poluição, dois fatores que desqualificam a vida. Mas o estresse também é um fator muito relevante, e acredito que, sobre caminhar em uma condição insegura, além do risco real de um atropelamento, somente o alto nível de estresse já desqualifica a caminhada como promotora de saúde e também é um grande desestímulo.
Portanto, mais uma vez, para pensarmos na saúde individual, precisamos pensar primeiro na saúde coletiva, no cuidado com o lugar onde vivemos.
(*) Dra Meira Souza é médica e escritora