Um dos piores regimes de chuvas no país desde 1931 traz o temor de secas e a lembrança dos apagões e do racionamento de energia em 2001 e 2002. O Operador Nacional do Sistema (ONS) apontou que os reservatórios hídricos das regiões Sudeste e Centro-Oeste encerraram o mês de abril no nível mais baixo desde 2015 e que, em maio, ainda não caiu sequer 1 mm de chuvas sobre as represas que abastecem a região metropolitana de Belo Horizonte.
A situação atual é radicalmente diferente daquela de 20 anos atrás. Naquela época, 83% da matriz energética nacional era formada por hidrelétricas, e a escassez de investimentos em geração e transmissão havia sucateado o sistema. Hoje, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), as usinas de fonte hídrica representam 58,34% da capacidade instalada, a participação das térmicas na matriz praticamente dobrou, e as eólicas e solares – que mal despontavam à época – representam um décimo dos megawatts produzidos e quatro em cada dez dos novos empreendimentos em construção.
Porém, se essa mudança traz alguma proteção contra o racionamento, infelizmente o mesmo não se pode dizer em relação ao custo para os consumidores. O ex-diretor da Aneel Edvaldo Santana calculou que, se todas as térmicas entrarem em operação até o fim do ano, isso significará um custo adicional de R$ 45 bilhões, com um impacto previsto de 12% sobre a tarifa.
Além disso, a operação das usinas térmicas tem outro reflexo no bolso da população. A bandeira vermelha, cobrada na conta quando elas estão em uso, deve passar para o nível 2 em junho, com um custo de R$ 6,24 a cada 100 kWh – um aumento de despesa nada insignificante neste momento, quando a maior parte da população precisa ficar em casa para se proteger.