O medo e o preconceito promovem uma epidemia silenciosa e fatal contra a infância e juventude brasileiras. Por dia, são registradas 233 ocorrências de violência contra crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, segundo relatório realizado pela Sociedade Brasileira de Pediatria com base em dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde.

Sete em cada dez ocorrências são de agressões físicas e torturas, e três em cada dez envolvem abusos psicológicos. Para cada menino vítima da violência, há duas meninas. São mais de 85 mil notificações em apenas um ano, e o estudo nem chega a contabilizar assédio sexual, abandono e trabalho infantil, o que seguramente multiplicaria exponencialmente esse número. 

Lamentavelmente, Minas Gerais ocupa o segundo lugar entre os Estados, com 17,3 registros a cada 100 mil habitantes, atrás apenas do Paraná (18 a cada 100 mil habitantes). De todas as ocorrências anotadas em 2017, 15,6% foram em terras mineiras.

Os casos brasileiros não raro acontecem dentro das próprias casas e, muitas vezes, nem são relatados às autoridades por pressões ou vergonha das famílias, pela falta de socorro às vítimas até que as agressões alcançam proporções severas ou até por negligência ou burocracia dos serviços de saúde e proteção ao menor.

O relatório aponta para a necessidade de programas preventivos e repressivos do Estado, de maior preparo das equipes de atendimento e da criação de ambientes seguros para que os menores possam denunciar a violência sem medo de retaliação. Procedimentos que são o mínimo necessário para se garantir o abrigo e a segurança necessárias para que meninos e meninas possam se desenvolver sem o medo permanente de que nunca cheguem a se tornar adultas.