Declarado sob controle em 2016, o sarampo volta a matar. Agora, em pleno inverno, a dengue cresce 600% no país e, em Minas, tem 20 vezes mais casos do que no ano passado. O Brasil está pagando a conta da negligência com a prevenção.

De acordo com balanço divulgado pelo Ministério da Saúde nesta semana, foram 47.165 registros no Estado em 2019, contra 23.290 no ano passado. Segundo o último boletim da Secretaria de Saúde, as mortes no ano chegam a 132, tendo sido sete nos últimos dias. É comum que o surto de dengue arrefeça no inverno, com as baixas temperaturas e a redução das chuvas atuando contra a proliferação dos transmissores. Mas não foi o caso deste ano.

Pode-se argumentar que a estação foi atípica, com temperaturas acima dos 30°C na capital mineira, como reflexo do fenômeno El Niño, mas é temerário atribuir somente a esse fator o crescimento do número de casos. Não é preciso uma pesquisa com rigor científico para perceber na vizinhança lotes abandonados fazendo as vezes de depósitos de entulho, caixas d’água destapadas e lixo espalhado nas calçadas.

A atual explosão da dengue mostra o quanto pode ser traiçoeiro não manter as medidas de proteção o ano inteiro. Mesmo no inverno, é essencial deixar os reservatórios de água e as lixeiras fechadas, calhas e telhados limpos e garrafas e recipientes vazios com a boca virada para baixo.

Em paralelo, é urgente continuar a busca do acesso universal a água e esgoto tratados. Estima-se que 13 milhões de crianças e adolescentes vivam em casas onde não há saneamento básico, enquanto os investimentos no setor encolheram em mais de R$ 3 bilhões, números que fazem a conta da negligência de sociedade e poderes públicos crescerem tão ou mais rápido que os da dengue.