Imagine ver, na véspera da eleição, o vídeo de um candidato cometendo um crime ou atacando seu próprio eleitorado. O “deepfake” é capaz de tornar real o maior pesadelo de qualquer político e, segundo Katherine Charlet, diretora de tecnologia do Instituto Carnegie, dos Estados Unidos, já ameaça as disputas do próximo ano pelo mundo, multiplicando o já enorme desafio das fake news à democracia.
“Deepfakes” são manipulações de vídeo realísticas, com recursos de inteligência artificial, que permitem trocar o rosto de pessoas e sincronizar movimentos labiais. É possível colocar alguém em lugares onde nunca esteve ou dizer coisas que nunca falou.
Em maio passado, imagens da líder da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, com velocidade reduzida e manipulação de som para fazê-la parecer bêbada, teve 2,5 milhões de reproduções nas redes sociais em poucas horas. Também circulam na internet filmagens cômicas do ex-presidente Barack Obama comentando o filme “Pantera Negra”.
A pesquisadora norte-americana observa que as pessoas já são dez vezes mais predispostas a espalhar notícias falsas do que as verdadeiras pela reação emocional. E que, pela mesma reação visceral, tendem a acreditar no que seus olhos e ouvidos estão apresentando, mesmo que os sinais indiquem que o vídeo seja falso.
Por meio de programas hoje acessíveis até por consumidores comuns, consegue-se uma poderosa ferramenta de manipulação das escolhas do eleitorado, o que vai exigir dos candidatos, segundo Katherine Charlet, agilidade nas respostas, forte amparo de agências legais e de verificação de fatos, uma mudança radical de conduta, enfim, com um compromisso sólido com a verdade.