Bem antes da pandemia e da quarentena, as famílias de 270 mortos e desaparecidos na tragédia de Brumadinho conheciam, de uma forma terrível, o que é não poder abraçar e sentir pais, filhos, companheiros e amigos. E as medidas de restrição deixaram uma nova dor, ao provocar a suspensão das buscas de 11 pessoas ainda desaparecidas na região da barragem.

O acordo possibilitando o retorno dos bombeiros ao trabalho no local a partir de 27 de agosto é um sinal de esperança e de conforto para essas famílias que, desde 25 de janeiro de 2019, aguardam o reencontro ou, pelo menos, a oportunidade da despedida. Cada um desses mais de 140 dias de suspensão, a maioria deles de céu limpo e pouca chuva, foi de sensação de oportunidade perdida, como contou Natália, irmã de uma das desaparecidas.

A volta aos trabalhos antes do fim da pandemia é também mais uma demonstração da solidariedade e da abnegação dos bombeiros, que já haviam passado mais de 400 dias ininterruptos na lama, nas águas, nos escombros e na mata atrás de sinais ínfimos, como um botão, que os levasse às vítimas. Um misto de técnica e crença inabaláveis que, com mérito, se tornou conhecido por todo o mundo.

Protocolos de prevenção foram estudados com as autoridades estaduais de saúde e envolvem avaliações frequentes de risco de presença de metais pesados e monitoração de temperatura e sintomas de Covid-19. Além disso, novas regras de higienização de equipamentos e adaptações nas hospedagens foram estabelecidas para que a única preocupação desses 60 militares seja permitir que Renato, Tiago, Juliana, Cristiane, Lecilda, Angelita, Luis, Nathalia, Maria, Olímpio e Uberlândio possam, enfim, retornar para suas famílias.