Poucas coisas preocupam mais os pais do que o futuro dos filhos, por isso não surpreende o debate sobre o retorno às aulas presenciais suscitar tanta paixão. Ontem, os governos de Minas Gerais e São Paulo falaram sobre planos de reabrirem as escolas, o que ocorreu de fato para 60 mil alunos de colégios particulares de Manaus. Por um lado, há a preocupação legítima com o contágio pelo coronavírus. Em maio, uma pesquisa do instituto Ipsos mostrou que sete em cada dez brasileiros tinham medo do retorno às escolas ou ao trabalho – isso, quando o número de pessoas infectadas no país era dez vezes menor do que o atual.

Exatamente por esse motivo, as 14 recomendações emitidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) para o planejamento do retorno às aulas começam pela observância rigorosa dos protocolos sanitários regionais e nacionais. Ao mesmo tempo, o CNE sinaliza a flexibilização de critérios de frequência, avaliação e aulas online até o ano que vem.

Este é o outro lado do temor dos pais. Uma segunda pesquisa, dos institutos EY Parthenon e Educa Insights, revela uma profunda insatisfação com o atual modelo remoto. Na educação fundamental, seis em cada dez consideram que o aproveitamento dos estudantes é mais lento do que aquele no tradicional. Pior ainda é para o grupo das crianças menores de 6 anos, no qual sete em cada dez pais consideram o rendimento pior.

Ensino remoto para crianças pequenas exige atenção contínua dos adultos, nem sempre disponíveis, pois, mesmo em casa, também estão em home office. E não há como dizer qual será o efeito do atual sistema em uma fase tão crucial para a formação do estudante. Com isso, a volta às aulas impõe aos pais o dilema de escolher entre o medo do presente e a incerteza do futuro.