A aridez dos termos da economia muitas vezes distancia as pessoas comuns do significado de informações como a queda do Produto Interno Bruto (PIB). Trazendo para o nível das ruas, significa o empobrecimento dos brasileiros em um processo que antecede a crise da pandemia.
Nos últimos dez anos, o tanto de dinheiro que o brasileiro dispõe em média para pagar suas contas ao fim de um ano encolheu R$ 2.040. Ou seja, são quase dois salários mínimos a menos. Isso representa mais de 220 dias de passagens de ida e volta de ônibus para o trabalho (em média, um ano tem 250 dias úteis); ou a compra de seis ovos por dia, já levando em conta a disparada recente de preços que fez o valor do pente de 20 unidades passar de R$ 17.
Não há quem não tenha percebido o quanto é difícil comprar as mesmas coisas com o salário de todo mês. Mesmo com especialistas repetindo que a inflação está sob controle, quando se usa a mesma régua do governo (o IPCA), a variação foi de quase 85% nesses dez anos. Quer dizer que os R$ 100 que alguém tivesse em 2010 hoje valeriam apenas R$ 15.
Sem dinheiro e até com medo de fazer compras, os brasileiros se recolheram. E quase dois terços da riqueza nacional vem exatamente do consumo das famílias. Como consequência, empresas que vivem de fornecer alimentos, transporte, hospedagem e lazer, por exemplo, minguaram 4,5% no ano. São negócios que respondem por sete em cada dez postos de trabalho em um país com 14 milhões de desempregados.
Sem renda, falta consumo. Sem consumo, falta emprego. Sem emprego, falta renda. Não é preciso ser economista para entender que, sem enfrentar o empobrecimento da população, não há como e fugir dessa armadilha e superar a pobreza da nação.