Como todas as ditaduras que se recusam a se assumir como tal, a Venezuela realiza hoje eleições para afirmar ao mundo que governo e povo exercem a democracia. Internamente, há sérias dúvidas de que os venezuelanos acreditem nisso.
As eleições são regionais e vão eleger 23 novos governadores. Atualmente, 21 Estados são governados por membros do partido do presidente Nicolás Maduro. Dividida, parte da oposição apresentou candidatos para concorrer.
Mesmo com a economia em depressão, inflação de mais de 600% e grande parte do povo passando fome, o governo pretende ganhar a eleição. Mais de 70% do eleitorado acha que as eleições serão fraudulentas e que o governo “leva”.
Como todo povo à beira do desespero, os venezuelanos se apegam a um fio de esperança como forma de vencer o caos. O anúncio das eleições tirou o povo das ruas e parte da oposição concordou com as regras fixadas pela Constituinte.
Para outra parte da oposição, foi um grave erro. O pleito foi convocado pela Assembleia Constituinte, não reconhecida como legal por vários países. Os governadores eleitos prestarão juramento a ela e serão empossados por ela.
Objetivamente, chavistas e opositores estarão reconhecendo a legitimidade da Constituinte, que até agora foi questionada. As pesquisas afirmam que a oposição vai arrebanhar mais de 50% dos votos depositados nas urnas.
O país se debate numa grave crise social, política e econômica. A fome, a violência e o desemprego enxotam os mais pobres para o Brasil e o Panamá.
Institucionalmente, o governo se apoia no Judiciário e nas Forças Armadas. Politicamente, tem o apoio de cerca 30% da população. Isso torna mais difícil a defecção pura e simples de Maduro, como almeja a oposição.
Ele não está só. Em torno dele há toda uma estrutura de poder construída pelo chavismo. Um pacto nacional tem sido impossível. Como afirma a mulher do oposicionista Leopoldo López, a Venezuela inteira está presa.