O sofrimento psíquico nas forças de segurança é silencioso. O problema só é ouvido quando deságua em tragédias, como o autoextermínio da escrivã Rafaela Drummond, 32, da Polícia Civil de Minas Gerais. A gravidade da questão é ignorada pelas instituições, que não oferecem assistência suficiente aos seus membros. 

O estresse próprio da natureza da profissão se soma a um ambiente de assédio, desvalorização e condições precárias de trabalho. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que um policial tem 4,2 vezes mais chances de cometer suicídio em comparação com um cidadão comum.

O agente de segurança pública se vê sem saída em uma cultura que, muitas vezes, ignora a importância da saúde mental. Forma-se um tabu ao redor do assunto, alimentado pela imagem de que o policial é capaz de suportar tudo.

Com o medo do estigma, o servidor se cala na maior parte das vezes. Aqueles que buscam ajuda correm o risco de serem revitimizados pela discriminação. Outra barreira é a ausência de uma assistência psicossocial robusta nas corporações. 

Os agentes de segurança pública sofrem os efeitos da crescente violência e da degradação da qualidade de vida de toda a sociedade. A falta de efetivo e de equipamentos adequados torna a missão de lidar com a criminalidade no dia a dia cada vez mais árdua. Para quebrar esse ciclo, é preciso atender os servidores em todas as dimensões, e não resumi-los a apenas números. 

A atenção à saúde mental dos policiais passa por uma reestruturação das instituições, desde o período de formação profissional. As ações devem se dar no sentido da prevenção e da remediação do adoecimento mental. 
Nos casos de assédio, as corporações carecem de um protocolo claro e rígido em que a denúncia seja acolhida, investigada e, em caso de comprovação, haja a punição ao agressor e o reparo à vítima.

A vulnerabilidade dos servidores da segurança pública causa sofrimento a toda a população, que sente a perda da qualidade de prestação de serviços.