Editorial

Vício do petróleo

Custos elevados, medo de desabastecimento e custos para sociedade

Por O TEMPO
Publicado em 03 de outubro de 2021 | 03:00
 
 

Em 2006, o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, advertiu sobre os riscos de uma sociedade “viciada em petróleo”. Quinze anos depois, vê-se que o alerta continua válido e como a metáfora da “adicção” ajuda a explicar a série de comportamentos irracionais que atentam contra o ambiente e a economia e que tornam populações reféns de movimentos que afetam o fornecimento de combustíveis.

Ainda que esteja mais do que comprovada a relação entre queima de petróleo e aquecimento global, as maiores produtoras mundiais do carboneto ainda não ajustaram sua produção ao Acordo de Paris para prevenir o colapso ambiental. A Petrobras, por exemplo, produz hoje no pré-sal 10% a mais do que no ano passado.

Mas a maior produção não se reflete em preços menores. O fato é que, mesmo autossuficiente em petróleo bruto, o país precisa importar o produto processado por causa de décadas de escolhas equivocadas. Com poucas refinarias, o país é capaz de processar pouco mais de 2,4 milhões de barris por dia, sendo que apenas do pré-sal extraem-se 2,85 milhões de barris diários.

O Brasil, assim, fica à mercê dos preços internacionais e da flutuação do dólar para prover os 38% da matriz energética nacional que são baseados no petróleo. E paga caro por isso. Por exemplo, o diesel, vendido a mais de R$ 5, está com preço 23% maior do que a média histórica. Isso encarece o frete e impacta custo e disponibilidade dos produtos uma vez que seis em cada dez toneladas das cargas passam por rodovias.

Dessa forma, paralisações como a dos tanqueiros instauram o medo. O consumidor corre para os postos, provocando escassez e aumentos artificiais da gasolina, que já subiu mais de 40% em 12 meses, segundo a FGV, reforçando esse círculo vicioso, irracional e lesivo para toda a sociedade.