A recente sanha pelo voto impresso no Brasil atingiu seu ponto mais alto ontem, com a publicação, pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, de “recado” do ministro da Defesa, Braga Netto, que teria condicionado a realização das eleições em 2022 a esse arcaico modelo de sufrágio. Na medida em que o coro a favor desse retrocesso político, logístico e jurídico aumenta o tom, também devem se levantar as vozes para afirmar a segurança e a viabilidade da urna eletrônica. A discussão sobre o tema da segurança eleitoral em si é legítima, desde que esteja nos limites da Constituição Federal.
A possibilidade de auditoria do voto, argumento-chave sobre o qual se sustentam os defensores das volta das cédulas, também existe no voto eletrônico, por múltiplas vezes e de forma muito mais ágil. Além disso, o voto impresso não estaria imune a fraudes, uma vez que seria emitido pela própria urna eletrônica e seria manuseado pelas pessoas, enquanto o voto eletrônico é criptografado. Sem falar na possibilidade de uma infinita judicialização.
A inconveniência da emissão do voto em papel ainda toca questões logísticas. A rapidez da apuração, tão comemorada quando as urnas eletrônicas foram completamente implementadas no ano 2000, desapareceria no modelo com cédulas. O sistema impresso não consegue armazenar e contabilizar votos de 148 milhões de eleitores em poucos dias. Vide eleições norte-americanas.
Nenhuma dessas evidências sensibiliza as mentes conspiracionistas, até porque, no fundo, grande parte deles já têm plena consciência dos fatos. Na verdade, o discurso em prol do voto impresso é parte de uma estratégia que tem como finalidade a corrosão da democracia para que se crie um ambiente propício a formas inconstitucionais de se ocupar o poder.