Predominância paulista

Basquete: São Paulo com 100% de convocados sub-16 gera críticas e novo incômodo

Situação é recorrente e levanta debate sobre desvalorização de outros Estadosl; base dos últimos anos foi mantida para Copa América

Por Daniel Ottoni
Publicado em 09 de agosto de 2021 | 10:14
 
 
Dedé Barbosa é o técnico da seleção brasileira sub-16 Divulgação

O incômodo de quem está fora de São Paulo segue acontecendo, apesar de não ser surpreendido com a convocação de mais uma seleção da base do basquete brasileiro. Na convocação do time sub-16, que se prepara para a Copa América da categoria, todos os atletas chamados são de times paulistas.

O técnico do grupo é André Barbosa, o Dedé, do Pato Basquete, que tem Thelma Tavernari e Carlos Oliveira como seus assistentes. 

A situação é recorrente e já havia sido divulgada pelo SuperFC em 2019, quando Minas e Olympico fizeram a final do Brasileiro Interclubes sub-14. Nenhum dos dois times tiveram convocados para a seleção desta categoria na época. 

Na postagem da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) no Instagram, muitas críticas apareceram sobre a decisão. Alguns internautas afirmaram que a CBB apagou comentários que não eram bem-vindos. A entidade se defendeu e afirmou que 'restringe e não aceita ataques e xingamentos, por respeito aos convocados e aos fãs'. 

"É muito desestimulante para a molecada que se mata de tanto treinar, que passa horas dentro de quadra ver uma realidade dessas. Claro que os selecionados devem ser atletas de qualidade. Mas a falta de olhar para os outros Estados é um balde de água fria. E os atletas que se matam, que se dedicam à exaustão, começam a falar em desistir. Uma convocação como essa corta o sonho de todos os atletas que estão sediados em outros Estados. Precisamos repensar isso", sinalizou uma das internautas. 

É inegável a maior força do basquete paulista, que conta com um campeonato com maior número de times. Ao mesmo tempo, um bom trabalho de base é feito em outros Estados como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Rio de Janeiro.

"Temos clubes que têm revelado talentos nestes Estados e também no Nordeste. Aqui em BH, temos que reforçar a presença do Praia Clube, Minas, Olympico, Ginástico e Mackenzie. É uma gama grande de clubes reveladores, que poderiam receber mais atenção. Se isso acontecer, o basquete brasileiro pode, inclusive, dar um salto, refletindo na formação de outras equipes, ajudando a modalidade a crescer", comenta André Machado, técnico do sub-12 do Praia Clube, de Uberlândia. 

Pandemia como barreira

Ao mesmo tempo, ele pondera que os últimos meses, sem torneios, em virtude da pandemia, não permitiram a melhor observação e análise da comissão técnica.

"Está sendo feito o que vimos, por exemplo, no sub-14 de dois anos atrás. Não foi possível acompanhar de perto estes jogadores e seu desenvolvimento nos dois últimos anos, foi feito agora o que era necessário. Acho que, para o atual momento, foi uma boa escolha", afirma o treinador. Para ele, um conjunto de fatores contribui para a predominância paulista na convocação. 

"São Paulo conta com um campeonato mais disputado e organizado, onde o desenvolvimento dos atletas é maior, isso é inegável. Acho que os clubes de outros Estados não têm dado o suporte necessário para a formação dos atletas, para que eles possam ser bem trabalhados. Isso, principalmente, nos clubes menores, quando pode faltar experiência, conhecimento e até investimento. Uma hora não se consegue mais segurar os atletas por ali. Também vejo as federações não tendo os recursos necessários para administrar e fazer crescer o basquete nos seus Estados, é uma situação onde pouco se faz pelo basquete nacional", reforça. 

Luiz Fernando Nery Leão, o Nanando, é técnico do time sub-16 do Minas e admitiu surpresa com a convocação. "Não sei o que aconteceu nessa convocação, foi uma surpresa. O Dedé é competente, mas acho que ele confiou em pessoas que só conhecem do basquete paulista. As avaliações dos possíveis convocados precisam ser feitas com treinadores dos principais clubes dos Estados com antecedência, abrangendo um maior número de atletas", pontua. 

Base mantida

Com pouco tempo para se trabalhar, manter a base foi o atalho encontrado para chegar a um bom resultado no torneio, aproveitando o mesmo grupo de trabalho dos últimos anos. 

"Este elenco já tem uma base formada de dois anos seguidos. Isso pode ser importante levando em consideração o tempo curto de trabalho, serão apenas duas semanas de preparação para um torneio muito difícil. Não é algo pontual, lembrando que não teve o tempo necessário para convocar atletas de outros Estados e observá-los. Já estive em uma situação parecida, a Copa América é outro nível de competição, em duas semanas não seria possível fazer testes e avaliações. Este cenário é o ideal quando se tem masi tempo. A pandemia não permitiu, por exemplo, algo que eu já sugeri em outras oportunidades: do técnico da seleção acompanhar de perto o trabalho em outros Estados. Isso não foi possível já que o basquete de base ficou parado nos últimos meses", salienta Cristiano Grama, técnico do sub-16 do Praia Clube.

A reportagem fez contato com a Confederação Brasileira de Basquete (CBB), sem ter retorno. O Brasil se apresentou neste domingo, com 15 atletas, e treina até o dia 18 de agosto na cidade de Arujá, em São Paulo. Apenas 12 viajam. O embarque para Xalapa, no México, será no dia 19 de agosto. A Copa América terá Brasil, Canadá, Estados Unidos, República Dominicana, Porto Rico, México, Argentina e Chile.

Pelo sistema de disputa, as equipes serão divididas em duas chaves com quatro equipes em cada. A fase serve de ranqueamento para o mata-mata das quartas de final. Os quatro semifinalistas estão classificados para a Copa do Mundo sub-17 em 2022. A FIBA ainda irá divulgar as chaves.