Esportivamente

Daniel Ottoni é repórter de esportes especializados do jornal O Tempo, do portal Super.FC e da rádio Super. Com experiência de cobertura em Copa do Mundo, Olimpíada e Mundiais de vôlei, tem uma predileção por bastidores e lado B. Por aqui, espaço para os esportes que têm uma religião chamada futebol como concorrente em muitos momentos.

Coluna Esportivamente

Fisiculturismo é origem de conquistas e preconceito de atleta mineira

Publicado em: Qui, 15/07/21 - 10h26

O mesmo físico que rendeu a  Raquel Silveira Tófani, de 37 anos, algumas das maiores conquistas da sua vida, é o mesmo que faz a autônoma de Belo Horizonte ser 'fuzilada' por olhares de preconceito e reprovação.

Desde 2016, Raquel se dedica ao fisiculturismo, conseguindo conquistar importantes resultados como ser Top 2 do Amateur Olympia Brazil e do Muscle Contest Internacional. Mãe de três filhos, Raquel dá prioridade total para o sustento da sua família, mas sem deixar de lado uma paixão que faz questão de alimentar. 

A primeira gravidez veio aos 17 anos, ainda em idade escolar, quando praticava vários esportes, entre eles a musculação. Era na academia que ela se identificava e passava boa parte do seu tempo.

"Eu precisava de uma mente e um corpo forte e blindado para enfrentar a vida. Nunca pensei em subir nos palcos de fisiculturismo, era algo impossível pra mim sendo mãe solteira e trabalhando em dois lugares pra nos sustentar. Eu treinava por gosto todos os dias, tomava banho na academia e ia trabalhar de copeira, além de ser faxineira em uma casa de família", lembra.

Incentivo

O dono da academia que frequentava foi quem lhe despertou seu potencial. "Ele disse que eu estava desperdiçada, que deveria competir. Não achava que tinha capacidade pra isso, mas ele me encorajou, disse que faria rifa e pediria ajuda pra todos. Foi aí que tudo começou, todos foram ajudando e subi no palco pela primeira vez. Hoje, eu respiro o fisiculturismo", conta. 

A presença na modalidade fez Raquel entrar 'de cabeça' como age em tudo na vida, descobrindo o que era necessário para evoluir. "Cada campeonato é uma evolução e transformação, trabalhamos com detalhes, eu vibro por cada detalhe de melhoria no fisico. É um trabalho árduo e constante", detalha.

Além dos efeitos colaterais, que ela tinha ciente de que estariam por vir, Raquel sofreu com preconceitos e olhares, que não foram suficientes para diminuir sua trajetória de conquistas, dedicação, trabalho e abdicação. "Eu diria que o fisiculturismo é uma tela em branco, pintamos a arte que é o nosso físico", reflete. 

"Já sofri vários ataques e xingamentos no Instagram, com frequência sofro críticas verbais. Na rua, saindo da academia, já me chamaram de lixo, de bicho. Os olhares 'fuzilam' como uma metralhadora, as feições das pessoas de negação e terror chegam a ser humilhantes. Hoje em dia, digo que não absorvo mais isso pra dentro de mim. Mas essas situações me deixam triste ao perceber que as pessoas não respeitam as escolhas de cada um", lamenta. 

Raquel segue em frente, acreditando no seu potencial e em um futuro que lhe dê melhores condições, sendo recompensada pelo tempo e dedicação na modalidade. 

"Já pensei em desistir algumas vezes pois não tenho patrocínios nem uma ajuda qualquer em Belo Horizonte. Não desisto e prossigo, o fisiculturismo é parte de mim. Eu  diria que este esporte é minha alma. Sempre quando estou prestes a competir, fãs de todos os lugares do mundo, pelo Instagram, fazem contato e conseguem doações para eu subir no palco. As pessoas fora do Brasil me respeitam e me admiram mais que as da minha própria nação, isso me entristece muito. Sou mãe de três filhas, solteira, atleta, pai, não recebo pensão. Sempre me virei como pude para sobreviver, só queria um apoio de algum médico, de uma empresa de suplementos, o que fosse de benefícios para dedicar um tempo maior ao fisiculturismo", completa. 

 

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