Minha pesquisa foi informal e aleatória. Primeiro, perguntei aos amigos, parentes, vizinhos. Para completar, andei checando os comentários dos leitores de O TEMPO nas postagens sobre o Carnaval de Belo Horizonte – Carnaval que, afinal, não teve. Se depender do que li e ouvi, Rei Momo e seus súditos podem ir sambar noutra freguesia todo ano.

A pesquisa continua em andamento. Caros comerciantes, cidadãos pagadores de impostos: vocês sentiram falta de serem obrigados a cercar jardins, fachadas e vitrines às pressas para evitar prejuízos causados pela educação e civilidade dos foliões?

Moradores da região da Savassi: este ano vocês se lamentaram das portarias de seus prédios livres, leves e soltas? E não bloqueadas pela garotada bêbada, berrando palavrão em coro contra quem reclamasse, atirando latinhas nas suas janelas? Algum nostálgico sentiu saudades do cheiro de xixi? Ou do agradável fundo musical dos trios elétricos, dia e noite zoando nossos ouvidos?

Porque, nos carnavais passados, a gente se lembra: barulheira, ruas totalmente entupidas, milhares de contribuintes eleitores trabalhadores pagadores de IPTU’s em dia, sem poder aproveitar o feriado, privados do sagrado direito de ir e vir, visitar amigos ou passear com o cachorro. Prisioneiros de decisões para agradar alguns, fomos detidos pela intransponível barreira movediça de corpos suados, fedorentos e saltitantes que se estendia desde a porta de nossas casas até o destino.

Que coisa boa um feriado assim. A chuva ainda colaborou, lavando a cidade e principalmente aquelas ruas que a limpeza urbana diz varrer a cada 15 dias, informação sujeita a chuvas e trovoadas. Ora, raios! Por uma questão de física básica – a gravidade – o lixo dessas ruas desce sempre em lindas enxurradas para as ruas maiores. E tudo fica imundo, uma lambança exemplar.

Achei gozado ver na TV donos de blocos choramingando e pedindo dinheiro público para “arcar com os prejuízos”. Que cara de pau, não? Não seria mais justo pedirem para as fábricas de cerveja, que faturam os tubos patrocinando o inferno da purpurina e da bebedeira? Se pudesse, chamaria um desses jovens sem-noção para um papo. Perguntaria se ele já tinha percebido que o mundo inteiro é vítima de uma praga danada – e não só o bairro dele, a rua, a cidade, o país, o hemisfério? E que tais “prejuízos” vieram aos borbotões, sobretudo para gente modesta, obrigada a fechar suas lojinhas, a andar de ônibus, a fazer uns bicos para alimentar a filharada, contando centavos? Não é só você que está chateado; mas também cerca de 7,8 bilhões de pessoas do planeta. Percebeu? Então, chora não, meu filho.

No fundo, entendo a tentativa de extorsão da turma contra os cofres da comunidade. É que permanece a fantasia tupiniquim-carnavalesca do estado-teta, paternalista e boa-praça, quebrando o galho dos amigos e gastando a grana com bobagens. Comentaram sobre um comercial pago com nosso dinheiro, exemplo da gastança. Fui conferir: na propaganda, as autoridades divulgaram mensagens esclarecedoras, inéditas e essenciais: a) há uma pandemia b) logo, não se aglomerem c) portanto, fiquem em casa no Carnaval. Puxa! Meu Deus! Caramba! Ninguém sabia disso! Ufa! Que alívio! Ainda bem que a cidade gastou R$ 1,5 milhão para dar essa notícia urgente ao povo. Dinheiro tem de sobra.