Fernando Fabbrini

Escreve todas as quintas-feiras no Portal O Tempo

Aprendam com Churchill

Publicado em: Qui, 21/01/21 - 03h00

O velho Winston sabia das coisas. “A democracia não é um sistema perfeito. No entanto, está comprovado que a democracia é o pior sistema de governo entre outros que se tentam, mas que nunca dão certo” – escreveu.

Pois é: a democracia ainda é a melhor opção, mas tem suas regras. Chega-se ao poder unicamente através da aritmética. Para ganhar a eleição, o candidato “A” deve ter mais votos do que seu adversário “B”. Simples assim. Qualquer outro atalho para vencer dá uma confusão dos diabos, briga, tiroteio, mortes – bagunça geralmente seguida por uma ditadura.

Outra vantagem da democracia é que ela preserva a sagrada liberdade de opinião do cidadão. Já numa ditadura – como a cubana, a venezuelana, a chinesa, a coreana, a iraniana e as de outros países – o sujeito faz uma piadinha qualquer, zoa a cara do governante e, um belo dia, é levado pela polícia para uma conversinha. Nunca mais volta. Até prova em contrário, o Brasil é um dos países democráticos da atualidade. Já passamos por várias rebordosas e vamos nos equilibrando em nossa atribulada democracia alcançada a duras penas.

Sendo o Brasil uma democracia, portanto é permitido criticar o governo em curso livremente. O nível dessas críticas varia. Podem ser desde observações inteligentes até atrocidades cometidas pelos que não aceitaram perder a eleição anterior. Esses insistem nas piadinhas bobocas, na supervalorização de picuinhas, slogans vazios e até artigos de jornal que torcem para que o governante morra após contrair uma doença. No limite extremo do grotesco joga-se futebol chutando a cara do adversário eleito. Alguns aplaudem.

Nas redes sociais percebem-se graus diversos dessa obsessão raivosa, algumas similares à Síndrome do Estocolmo. O indivíduo inconformado comenta, ofende, esbraveja – e assim se mantém psicologicamente atrelado àquele governante que detesta, não é engraçado? A vida dele vira uma prisão, é triste. Sobre isso, disse também Churchill: “os problemas da vitória são mais agradáveis do que os da derrota, mas não são menos difíceis”.

Felizmente, no sistema democrático os derrotados na eleição anterior não estão perdidos: podem tentar vencer a próxima; claro. Mas para isso é necessário trabalhar duro, não desperdiçar tempo e energia com tolices. A primeira providência é escolher um candidato legal, um cara bom de serviço, sem sujeiras no passado e com carisma para conquistar corações e mentes. No caso do Brasil, estamos em falta. Pelo visto, até agora não surgiu ninguém com tal disposição e qualidades. E olhe que faltam menos de dois anos para a próxima eleição.

Os sonhadores com a vitória devem, urgentemente, estudar e entender a fundo o grupo social que os marqueteiros chamam de “público-alvo” – os eleitores, a base da democracia. Essa gente, que deposita seu voto na esperança de dias melhores, não se ilude mais com conversa mole. Está cada vez mais atenta e bem informada; não engole mentiras, sabe filtrar e criticar o que aparece por aí. Afinal, como constatou o velho líder do uísque e do charuto, “não existe opinião pública, existe opinião publicada”.

Sagaz, estabanado, bruto quando necessário, Churchill deixou frases engraçadas tais como “um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado”. Porém, sabia também ser sério e incisivo: “construir pode ser a tarefa lenta e difícil de anos. Destruir pode ser o ato impulsivo de um único dia”. Guardei a melhor delas para o fim: “a verdade é inconvertível, a malícia pode atacá-la, a ignorância pode zombar dela, mas, no final, lá está sempre a verdade”.

De Churchill, aprendi pelo menos uma coisinha: às vezes a ironia pode ser também a diversão de um cronista.

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