FERNANDO FABBRINI

Na minha opinião

Cada um tem a sua

Por Da Redação
Publicado em 04 de novembro de 2021 | 03:00
 
 

Por exemplo: gosto de ir pra cama cedo e acordar antes do sol, curtindo o amanhecer, passarinhos cantando. Já tive tempos de boemia, violão, noitadas memoráveis. Agora, mesa de bar barulhento, moela ensopada, mandioca frita, cerveja e fumaça de cigarro em volta? Jamais. Mas, na minha opinião, admiro as pessoas que adoram a noite, bebem pinga com uísque, vinho com vodca, comem dobradinha com torresmo, voltam pra casa de madrugada, felizes, e só acordam ao meio-dia. 

Gosto da solidão, de vez em quando. Mas existem alguns que só ficam felizes rodeados da turma – e pronto, como não entender isso? Gosto de ler no meu sofá, livros novos ou antigos, de bermuda velha e camiseta idem. E ando com preguiça de celulares, computadores, televisão, séries sobre traficantes, porradas, sacanagens diversas, fantasias e delírios do cinema dirigido por algoritmos. Porém, se você gosta do que eu não aguento, tudo bem; faça sua maratona em paz. E se quiser adicionar moela ensopada, mandioca frita, cerveja e fumaça de cigarro ao ambiente doméstico, está no seu direito, ué. 

Na minha opinião, prefiro comida simples: arroz, feijão, bife, batata-frita e a decoração clássica de uma folha de alface e uma rodela de tomate. Pizzas italianas, básicas, bem fininhas e crocantes, sem excessos de mozarela ou orégano, também já me deram razões de crer na humanidade em momentos difíceis. Por outro lado, detesto pratos sofisticados, aqueles lindos que as entranhas protestam indignadas – míseros fundos de alcachofra gratinados ao molho de pitanga e açaí, com raspas de pequi orgânico e toques de hortelã selvagem, acompanhados de um nadinha de arroz dos Andes, açafrão do Himalaia, aceto balsâmico dos Apeninos e aroma de edelvais dos Alpes. No entanto, há milhões que têm opinião diferente e saboreiam as criações rebuscadas dos chefes. Parabéns a eles, bom apetite!

Adoro viajar. Porém, a Las Vegas ou Dubai – cidades artificiais feitas pra impressionar – não iria nem de graça. Mas muita gente vai, gosta, tira fotos, aproveita e, lá nos Emirados, curtem o tal café com farelos de ouro. Na minha opinião, prefiro um espresso comum trazido por um garçom conversador de uma trattoria de Roma. Mas cada um na sua.

Ostentações e sinais exteriores de riqueza nunca me impressionaram; de alguns até acho graça. No entanto, se o sujeito quer gastar a grana dele em vasos da dinastia Ming; exibir as coleções de iluminuras medievais ou de Ferraris aos amigos, sem problemas. Na minha opinião, cada um gasta o que tem como bem quiser - e fim de papo.

Gosto de futebol, mas detesto torcidas, foguetes, marmanjos trocando ofensas e socos por causa de seus times. Antes que me acusem de fobia ao popular esporte bretão, defendo que qualquer idiota tenha o direito de ser mais imbecil ainda e externar sua violência contra um portador de perversões parecidas. Fico até torcendo para que, na briga, ambos se machuquem muito, com fraturas expostas, concussões e escoriações generalizadas. 

Agora: só tem uma coisa que eu prezo acima de tudo. E sobre esta não aceito discórdia, contestação nem preferência contrária. Alerto que, nesse caso, sou radical, intransigente, inflexível. O nome desse negócio é “liberdade”. Liberdade para ler, escrever, pensar, duvidar, questionar, filosofar, perguntar, opinar, responder, agir, reagir e viver de acordo com minha própria opinião.  

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