FERNANDO FABBRINI

Viver a beleza

Quando eu era jovem e cabeludo, resolvi conhecer a Europa na marra

Por Da Redação
Publicado em 23 de janeiro de 2020 | 03:00
 
 

Quando eu era jovem e cabeludo, resolvi conhecer a Europa na marra. Problema óbvio: a passagem aérea estava muito além de minhas modestas economias de publicitário principiante. Já a longa travessia do Atlântico de navio – 11 dias de Santos a Lisboa – em classe econômica, na belonave italiana “Augustus”, era surpreendentemente mais barata. Hoje não existe mais o serviço, e a coisa inverteu: a cada dia aparecem promoções de companhias aéreas, encaixando-se em qualquer orçamento e agenda. Então, façamos as malas; viajar é uma das formas mais honestas e gratificantes de se gastar dinheiro.

Uma curiosidade: a Itália continua sendo o destino mais sonhado, o favorito de milhões de pessoas mundo afora. As palavras “beleza” e “emoção” estão sempre presentes para justificar a escolha dos viajantes.

Atenta a esse fato, a Agência Nacional de Turismo da Itália lançou a campanha “Viva a beleza, você está na Itália”. Alguma dúvida quanto ao inspirado slogan, caro turista boquiaberto diante do Davi de Michelangelo ou curtindo a paisagem da Costa Amalfitana? Ou degustando uma pizza napolitana – original – com vinho e a pessoa amada, ao som de uma canção romântica? Ou ainda se assentando nas escadas da praça de Espanha, sorvete de pistache nas mãos, numa celebração do simples viver?

O chamado “turismo cultural” permanece no topo das preferências atuais. Com razão: a Itália, desde antes do Império Romano, coleciona relíquias da história, da civilização e da arte, expressivos marcos da humanidade. Nada menos de dois terços dos tesouros artísticos mundiais estão na Itália, espalhados em dezenas de sítios homologados como patrimônios universais da Unesco. Outro destaque é o turismo gastronômico, o dos amantes da boa mesa, dos vinhos, dos queijos, dos temperos das “mammas” e das “nonnas” cuidadosamente preservados.

Sem abandonar totalmente os inocentes pecados da gula supracitados, o turismo religioso marca forte presença. São milhares de devotos que visitam Assis, Cássia, Pádua, Roma e outras cidades importantes da fé cristã. Nos verões, as praias de Calábria, Sicília, Sardenha, Basilicata, Puglia – com suas águas azuis-turquesa, já fascinavam os europeus, e agora são famosas por aqui também.

Novidades apareceram nas rotas do turista de hoje na Itália. Na hospedagem, ganha espaço o “agriturismo”, pousadas no campo com direito às delícias originais da região. O viajante agora considera indispensável uma paradinha nos “borgos”, povoados pitorescos e pouco explorados que se encontram pelos caminhos. (Casar-se num deles, convidando amigos para a festa e passeios, está virando moda entre os noivos brasileiros. Costuma sair mais barato do que por aqui).

O fato é que, de norte a sul, a Itália define um estilo de vida e um estado de espírito que favorece emoções inusitadas, sentimentos profundos, reflexões essenciais. Além, é claro, de nos dar a certeza de que a vida é bela, como diz o filme. E de que vale a pena esticar-se, pernas pra cima na cama do hotel, exausto após uma jornada de prazeres italianos para os cinco sentidos.

Segundo a BH Airport, o aumento do fluxo turístico traz a possibilidade de voos diários entre Belo Horizonte e Roma, o que seria ótimo. Na via inversa, italianos conheceriam melhor Minas e o Brasil, berço de milhões de descendentes que somam quase 15% da nossa população. O cônsul da Itália em Minas Gerais, Dario Savarese, fã declarado do pão de queijo e dos doces da roça, já assumiu o papel de anfitrião ideal nesse trabalho de integração entre povos tão semelhantes de corpo, alma, afetos e sonhos.

Vivam a beleza também, venham para a Itália, depressa. Cada vez mais, é de dar água na boca e disparar os corações.