Campanhas no ar: Fulano do Boteco, Bonitão da Farmácia, Bonitinha da Feira, Sicrana do Baile Funk, Beltrana da Igreja. Nadando no dinheiro do fundo partidário – essa vergonha -, os candidatos voltaram a repetir aquela lengalenga que já conhecemos. Bem ensaiados ou não, com a ajuda indispensável do teleprompter, ensaiam sorrisos ou expressões confiáveis (no conceito deles, claro) e disparam uma sequência de frases prontas que remontam às eleições dos anos 60 – eu era criança, mas me lembro dos comícios. De volta, os apelos de sempre: “vamos renovar, fazer diferente” (farão igualzinho); “com a pandemia, o mundo atravessa uma grave crise” (como se não soubéssemos). Ou “é fundamental a união de esforços e a disposição para sacrifícios” (desde que os sacrificados não sejam eles). E ainda o “estamos sempre atentos aos problemas do povo” (sim, nem dormem à noite de tanta preocupação, coitados).
Afinal, que raça estranha é esta chamada “sonhadores das boquinhas”? Em linhas gerais, já consegui classificá-la dentro de alguns parâmetros que regem a cadeia (opa!) alimentar. São vertebrados - embora alguns bastante flexíveis quando necessário dobrar a espinha diante de valores e ganhos diversos. Seu habitat é variado, com predominância nas câmaras municipais, assembleias legislativas, planalto central e restaurantes de luxo. São mamíferos gulosos, sonhando agarrarem-se nas tetas da nação com apetite assustador. Vivem em bandos, matilhas, alcateias, enxames, cardumes – protegendo-se mutuamente de qualquer perigo externo. E se reproduzem facilmente, criando filhos e herdeiros engravatados para ingressarem na vida política e manterem assim a boa vida da família.
É certo que alguns candidatos – raros - tentam um mandato movidos por vocação, idealismo e conhecimento da gestão pública. Porém, a grande parte escolhe a carreira em busca de vantagens mais objetivas, digamos assim: estabilidade no emprego, privilégios, carros com motoristas, imunidades parlamentares. E, sobretudo, garantindo um futuro promissor da conta bancária, já que os aumentos de salários sempre ocorrem em sessões na calada da noite, num clima de cumplicidade quadrilheira.
Sem produzir – na prática - coisa nenhuma, gozam ainda das delícias do horário flexível, sem chefes chatos, sem cartão de ponto. Num estalar de dedos contratam auxiliares e aspones que circulam pelos gabinetes com cafezinhos nas mãos, trocando comentários sobre a última partida de futebol. Usando o dinheiro público – aquele nosso – botam no ar com irritante frequência campanhas publicitárias que tentam nos convencer que são pessoas honestas, dedicadas, suando a camisa em prol da comunidade e colocando os interesses dos eleitores muito acima de suas ambições pessoais.
Quase todos erguem bandeiras de apelo popular garantido, velha fórmula que sempre funciona – como a defesa das mulheres, dos LGBTSVQYZU, das etnias, do meio ambiente, dos aposentados, dos micos leões dourados, prateados, azuis ou seja lá qual cor apresente o bicho.
Se vivessem longe, noutro planeta, melhor: seriam ignorados. No entanto, são esses seres alienígenas, sorridentes e cínicos, que terão votos e os nossos destinos nas mãos, protegidos pela Lei. Sustentados pelos impostos que nos extorquem, interferem em nossas vidas como querem, obedecendo à máxima da autopreservação, acima de tudo.
E a nós – cansados, indignados, pês da vida, entranhas reviradas de asco - resta apenas escrever crônicas assim, em tom de desabafo, pra ver se alivia. E quem disse que resolve?