Hoje vou ser local, provinciano até, mas tenho que desabafar sobre o caos urbano que vem se instaurando em certas áreas da região metropolitana de Belo Horizonte. Morador, há 40 anos, da região em que a capital mineira faz divisa com o município de Nova Lima, acompanhei de perto as rápidas transformações por que passa o chamado “vetor Sul”.

A coisa começa com a implantação do BH Shopping ao lado do trevo viário, em área prevista para abrigar um parque ecológico. O sucesso do empreendimento levou à verticalização do bairro Belvedere e de áreas adjacentes em Nova Lima. Foi um boom imobiliário sem precedentes, favorecido pela bela paisagem de montanhas e trechos de Mata Atlântica, em parte tombados, aos pés da serra do Curral.

Os espigões se multiplicaram desordenadamente, formando verdadeiros paredões que mataram a galinha dos ovos de ouro: a natureza privilegiada e a tranquilidade com que a região foi vendida. O bairro conhecido como Vila da Serra pouco se distingue, em termos de ocupação e trânsito caótico, do Buritis. Sua principal avenida, a Oscar Niemeyer, popularmente conhecida como Seis Pistas, teve duas de suas pistas de asfalto loteadas para abrigar comércio, hospitais e outros serviços. Ali, o trânsito e o estacionamento de veículos são impraticáveis. As construções comerciais ao longo da MG–030 não sofrem qualquer tipo de controle. Surgem em terrenos quase inexistentes, tal o seu declive. Suas áreas de estacionamento chegam a ser vergonhosas, de tão espremidas e inclinadas. Cada SUV se incumbe de ocupar duas de suas pouquíssimas vagas. Apesar da trincheira e das alça viárias construídas em tempo recente, o trânsito na região tornou-se insuportável, e as poucas intervenções que buscam solucionar o problema chegam a ser ridículas, desviando os acessos e os retornos para pontos cada vez mais distantes e perigosos.

O uso de “tachões” para indicar ou forçar o sentido da direção não impede a desobediência do motorista apressado. Após perder boa parte do seu tempo em quilométricos engarrafamentos no entorno do BH Shopping, o condutor que vem de Nova Lima finalmente alcança a BR–356, onde, junto ao infindável número de veículos oriundos dos bairros e condomínios situados ao longo dessa via, aguarda pacientemente o momento de alcançar a região da Savassi.

Não vejo solução, em curto prazo, para esse problema que se agrava a cada dia, a cada hora. A legítima atividade lucrativa do empreendedor imobiliário, assim como a legítima aspiração do município de Nova Lima de ampliar sua arrecadação, não pode ir a ponto de negar ao cidadão a qualidade de vida que ele busca na região. Mais uma vez, por onde anda a agência metropolitana de planejamento? Acordem, senhores governantes.